O escritor Valter Hugo Mãe vai inaugurar a coleção de poesia “Elogio da Sombra”, com os autores José Rui Teixeira, Isabel de Sá, Andreia C. Faria e Luís Costa.
“Estamos a viver um tempo particularmente feliz na poesia portuguesa. De 2010 para cá, há um conjunto de autores e sobretudo mulheres que têm estreado e criado opulência nestes anos, que me parece poder anunciar uma das mais interessantes gerações da poesia portuguesa de sempre”, afirmou o escritor Valter Hugo Mãe, sobre a chegada às livrarias, no próximo dia 23 de fevereiro, da coleção que dirige.
Os quatro títulos que vão ser editados são “Autópsia [poesia reunida]”, de José Rui Teixeira, livro que reúne os dois ciclos de seis anos de trabalho do teólogo e poeta portuense: “Diáspora” e “Antípoda”, antecedidos por cinco inéditos de “Eclipse”, de 2018. Esta antologia conta ainda com textos do escritor Rui Nunes e da poetisa espanhola Miriam Reyes.
O segundo título, “O Real Arrasa Tudo”, de Isabel de Sá, poeta e artista plástica, reúne num volume 15 anos de trabalho da autora que a &etc revelou em 1979, com “EsquizoFrenia”, e que viria a ser publicada sobretudo ao longo das décadas de 1980 e 1990 por editoras como a Fenda, a Frenesi, a Rolim e a Ulmeiro, com títulos como “Desejo ou Água Leve”, “Restos de Infantas”, “Autismo”, “Em Nome do Corpo”, “Restos de Infantas”, e de quem a antiga Quasi reuniu a poesia num só volume, sob o título “Repetir o Poema” (2005).
O terceiro título é “Alegria para o Fim do Mundo”, de Andreia C. Faria, que no ano passado venceu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para Melhor Livro de Poesia, com a obra “Tão Bela Como Qualquer Rapaz”.
O quarto livro da coleção é do estreante Luís Costa, “Amar o Tempo das Grandes Maldições”, que Valter Hugo Mãe apontou como “uma estreia madura, ponderada e de poemas ao centro absoluto da existência”.
“Estes quatro livros criam um certo panorama, um certo ecletismo, dos autores mais novos aos mais velhos, de autores mais clássicos como a Isabel de Sá a autores absolutamente contemporâneos como a Andreia C. Faria, ou a estreia de obras. Estes quatros livros acabam por constituir um manifesto, dizendo que esta coleção é para isto… é para integrar os mais velhos, abrir a porta aos mais novos, para todo o tipo de estéticas, e de sensibilidades”, sentenciou Valter Hugo Mãe.
Questionado sobre se há um interesse crescente pela poesia, que habitualmente é apontada pelos editores como vendendo pouco, Hugo Mãe argumentou: “medimos as nossas paixões por sucessos puramente íntimos, somos cidadãos bem-sucedidos se tivermos o amor de duas ou três pessoas, de um filho ou de uma companheira, e a poesia, para mim, está neste reduto de intimidade e não precisa de ter a pretensão de chegar a muita gente”.
A poesia, disse Valter Hugo Mãe, “é um modo profundo, intenso, talvez mais verdadeiro de comunicar, e que sabemos vai dizer respeito a um núcleo restrito, e por isso um grande sucesso na poesia pode dizer respeito a 200 ou 300 exemplares vendidos”.
A coleção, ao mesmo tempo, vem ao encontro do desejo que Valter Hugo Mãe “tinha de voltar a editar”.
“Depois de termos sido editores não conseguimos intimamente deixar de o ser”, disse Valter Hugo Mãe referindo a sua experiência na extinta Quasi Edições, referindo o interesse pela descoberta dos textos “e até na decisão da imagem do objeto, a escolha do papel a capa…”.
Quanto à continuidade da coleção, vai contar, para já, com os quatro volumes da Obra Completa de Artur Cruzeiro Seixas, autor com 98 anos, artista plástico e escritor, um dos nomes centrais do surrealismo português.
De acordo com o editor, prevê-se a edição de oito a dez livros por ano.
Valter Hugo Mãe garantiu que “estará sempre presente” na coleção, até como tradutor, mas a sua própria poesia “passará por outros lugares”.
A apresentação da coleção de Valter Hugo Mãe “Elogio da Sombra” e das suas primeiras quatro obras realiza-se no próximo dia 23 de fevereiro, no âmbito do festival Correntes d’Escritas, que decorre na Póvoa de Varzim.