A celebração “da beleza do dia mundial do livro”, título que abre a secção das artes do Jornal de Notícias no dia 24 de Abril, é um epítome que assinala a efeméride celebrada nos espaços de beleza que a Livraria Lello disponibilizou, para receber os representantes das livrarias mais emblemáticas do mundo, a fim de festejarem o acontecimento.
O dia internacional do livro começou por ser celebrado no dia 5 de Abril de 1926. Em 1930 passa para o dia 23 do mesmo mês e em 1995 a Unesco institui oficialmente esse dia, 23 de Abril, como o dia mundialmente oferecido à cultura dos povos, como instrumento civilizacional. Esse dia, 23 de Abril, não é escolhido ao acaso. Assinala o nome de dois eminentes escritores da humanidade, William Shakespeare e Miguel Cervantes. Por capricho da natureza, um e outro, nascidos e sepultados no mesmo dia de 23 de Abril, faz agora quatrocentos anos.
Valter Hugo Mãe dedica o último capítulo dos seus “Contos de cães e maus lobos”, aos livros. Numa prosa profética, lembra “que ler é esperar por melhor”. O leitor entra com o livro para depois do que não se vê, diz o romancista. Os livros escutam-nos e falam constantemente connosco. Têm olhos que bisbilhotam em todas as direcções. O pensamento do romancista Hugo Mãe, sobre leitura e livros é, não só pedagógico, mas, sobretudo, instrutor. “Saímos de dentro dos livros” vivos, com capacidade para mudar os mundos que nos rodeiam.
Outro registo, mais picaresco, é de Lobo Antunes. “Os livros são como as putas”. Evidentemente, um desabafo de cariz passional. Lobo Antunes, aparentemente, não concebia que algo lhe fugisse, após o carinho colocado no parto laborioso da sua apaixonada criação. Publicado, o livro, qualquer obra, deixa definitivamente o seu autor e passa para quem o assume e a ele, amorosamente, se entrega. É uma traição igual a todas as “prostituições” que a vida nos obriga. Nada é nosso, nada nos pertence.
Pode não ser uma reflecção catita sobre o dia mundial do livro, mas os dois romancistas referidos têm toda a razão: “quando lemos estamos a percorrer o nosso próprio interior”, venha o livro donde vier.
Pe. Bártolo Pereira