Há um fenómeno crescente, visto como um perigo eminente por alguns e uma esperança para outros: de repente, alguns cidadãos em Portugal começaram a querer fazer política à margem dos Partidos Políticos. Falo não só do fenómeno de candidaturas que emergem de entre o descontentamento com o nosso sistema partidário, sendo que algumas delas caiem numa espiral de demagogia e populismo. Mas falo também e sobretudo de cidadãos que, muitas vezes, estão próximos dos Partidos Políticos, pessoas até bem resolvidas ideologicamente, mas que encetaram projetos e candidaturas à margem desses Partidos. O caso de Rui Moreira no Porto é talvez o mais paradigmático, ao ponto dos principais Partidos não saberem bem gerir a situação criada na “Cidade Invicta”. Se uns tentam atrelar-se ao evidente sucesso da equipe de Rui Moreira, outros desconhecem o preço de se demarcarem nas próximas eleições autárquicas. Até porque, no conjunto cada vez mais vasto de colaboradores e apoiantes de Rui Moreira, existem muitos que são das fileiras de militantes dos Principais Partidos e com inegável mérito. Por ora não falarei mais deste caso do Porto, quer pela evidente particularidade daquela que é segunda maior centralidade do País, quer pela também especificidade do fenómeno. Não falarei ainda do fenómeno “Marcelo”, porque é cedo ainda para grandes reflexões.
Falarei de mim e da minha recente experiência na política autárquica em Vila do Conde. Provavelmente é um assunto que já chateia, mesmo por aqui e por entre as minhas crónicas. Mas é esse mesmo o problema maior que me leva a falar do assunto. As pessoas estão tremendamente chateadas e desiludidas com os Partidos Políticos portugueses. Diria mesmo que estão cansadas! Compreendo-as.
Em 2013 fui convidado a ingressar numa lista candidata à Câmara Municipal de Vila do Conde, na altura como dissidente e desiludido do Partido Socialista. Assumi sem medo essa condição e fratura democrática! Achei que seria o momento para tomar essa posição. Fiz questão de a tomar como independente e embora considere que todas as minhas convicções cabem perfeitamente na Social-Democracia, não senti vontade até hoje de voltar a ser militante, neste caso do PSD, o principal Partido Político que apoiou a lista à qual pertenci e pertenço!
Confesso que, para mim, estas coisas deveriam ser mais evidentes mas, na verdade, cada vez sei menos qual é o meu ideal modelo de Democracia. É verdade que a estabilidade democrática tem variado proporcionalmente em relação à consolidação dos partidos mais representativos, mas com o negativismo dos vícios que tal gera. Porém, do “outro lado”, o supostamente menos “aparelhista”, temos tantos exemplos constrangedores de movimentos que se diziam apartidários e acabaram por serem autênticos flops ou acessos oportunamente populistas. Certo é que não me revejo na forma e no conteúdo da organização atual dos Partidos Políticos, mas sei bem que a Democracia tem neles um pilar fundamental e insubstituível, ainda que possam, e devam coabitar com outras formas de participação cívica.
Não vou por isso, entrar em lugares comuns e críticas fáceis ao nosso sistema partidário. Digo apenas que para mim fazer política é querer ser empreendedor, é querer mudar o mundo. Infelizmente, esse sentimento saudável de construir colide com muito do que se faz na política portuguesa. Todos temos o direito e a ambição de mudar o mundo, aliás, todos devemos mesmo ter essa vontade! Deveria ser sempre assim com o devido respeito pelas opiniões democráticas dissonantes das nossas. O problema é que sempre que essa vontade colide com a estratégia do Partido, com o líder, com as ambições dos pares, há quem tente passar uma imagem de quem está ali porque quer alguma coisa, no sentido negativo do verbo querer. E se calhar é assim porque o sucesso de um político é um objetivo, quando deveria ser uma consequência. Naturalmente a sua base deveria ser o fazer e não um mero querer!
Por esta altura, aposto que já perguntam o que eu quero deste mundo onde me meti quando decidi ser candidato e autarca. Serei mais um populista que cavalga no descontentamento dos portugueses e inevitavelmente me tornarei naquilo que critico? Pois bem, eu, desde muito pequeno, tenho em mim uma vontade intrínseca de construir e por isso acabei arquiteto. Também por isso dou-me mal no papel de uma oposição quando ela só pensa em destruir ou desconstruir, mas sinto-me confortável quando ela age construtivamente. Sou intolerante à incoerência de tacticismos, sem outro sentido senão o de fazer apenas a vontade a um estratega e/ou um líder. Sou avesso ao “porque não” e de igual forma ao “porque sim”. Corro riscos em nome do nada, porque foi do nada que eu vim. Eu não pedi para ser quem sou e exijo de mim bem mais do que alguns previam. E quero deixar-me levar pelos dias em que faço aquilo que me faz sentido. Quero não me deixar abalar ou amedrontar pela incerteza de um futuro, aparentemente isolado ou por um destino traçado numa cartilha qualquer, de quem já anda nisto há muito tempo. E quero não me deixar vencer pelo “sistema”. Argumentarei com quem não pense como eu e seguramente nunca os cercearei! Mas não contem comigo para desistir de tentar mudar o mundo e de desistir de vos convencer com as minhas opiniões!
Estou em crer que esta verdade vai fazer caminho e mudanças na política portuguesa. Que a desilusão dos portugueses se torne na esperança da regeneração da nossa Democracia. Que os Partidos se abram à sociedade e aceitem mais simpatizantes do que militantes. Que a obediência dê lugar à coerência e que cada lugar do nosso país se torne terreno fértil para empreendedores. Desses que fazem da política um modo de construir…