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O dia que Portugal merece

10 Junho 2016
O dia que Portugal merece
Opinião
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Escrevi uma vez e volto ao assunto. Dia de Portugal e continuo sem saber a quem enviar as saudações protocolares. Ao Anjo que a liturgia da Igreja diz ser o guarda do nosso património? A S.A.R. D. Duarte Pio a quem a história confia um legado esquecido? Ao Presidente da República que louvavelmente distribui afectos? Ao António Costa que apostou na raspadinha? Talvez a nenhum destes senhores. O bolo deste país vai para o povo. O pensamento de Eduardo Lourenço é de grande actualidade. Traça a fisionomia histórica e cultural dos homens e mulheres da “Luz-Citânea”, gente exportadora de humanidade e com “programa de muita festa” por todas as partes do mundo onde mora. São eles o “Portugal”.
Fomos buscar Camões para assinalar a nacionalidade. É um dos maiores poetas, nascido, talvez, em Coimbra, e faleceu em Lisboa em 10 de junho de 1580. Por isso, 10 de junho, dia de Camões, a hora de Portugal. Certíssimo. O homem e os ideai, o orgulho pátrio, as andanças e aventuras, a cultura e os valores, são o Portugal de sempre. A nossa história, nos tempos de fartura e de anemias, está prenhe de acontecimentos e razões que são a “sua história”.
Três matrizes contraditórias, segundo José Hermano Saraiva, terão contribuído para uma cultura de contradição e destruição, hoje ainda modeladoras do espírito português. A cultura cristã, a islâmica e a hebraica. Todas de carácter religioso, sendo verdade que o culto em si é já uma acção cultural. A Igreja católica representava a cultura oficial e nunca se deixou dominar pelas outras que desapareceram, quase sem deixar rasto. É curiosa a tese dos oragos das freguesias. Foram os santos padroeiros que seguraram toda a implantação do cristianismo como uma “visão do mundo e uma concepção de vida moral por todo o território”. Mesmo antes do nascimento de Portugal há uma intensidade sobranceira do cristianismo na construção de monumentos, nas peregrinações, no ensino universitário, mesmo na apologética, afronta e destruição de bases do Corão e da Torah. Hoje, Portugal é de todos.

Pe. Bártolo Pereira