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A crónica da crónica

24 Fevereiro 2016
A crónica da crónica
Opinião
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Para a minha primeira crónica escolhi o tema da decisão sobre a mesma. Desculpem a minha provável falta de humildade, mas confesso que o convite para também aqui dizer o que penso, foi recebido com algum conforto. Na nossa vida tomamos decisões que nos levam a tomar um certo rumo, ou algumas vezes o rumo das nossas vidas nos leva a sentir que chegou a altura de tomar decisões.
Como sinto que terei espaço para falar de muito, hoje fixo-me apenas no que me levou a aceitar estar por aqui. Por entre os prós e contras encontrei motivações, confessando também que muitos dos contras acabam por ser mais fortes do que uma suposta sensatez ou responsabilidade. Com isto não quero dizer que sou ou serei irresponsável, mas claramente contrario uma posição taticista perante aquilo que poderiam esperar de mim.
Esta possibilidade agrada-me não só porque gosto de escrever, mas porque gosto de pensar. É um enigma para mim se quem pensa bem, escreve igualmente bem. Já do contrário não me restam grandes dúvidas.
Mais do que uma retórica rebuscada ou até literariamente bela gostava de ser simples, o que a minha formação de arquitecto me ensinou que é provavelmente o mais complexo.
Para quem não me conhece eu sou arquitecto de formação, fui professor numa Universidade durante 17 anos e acumulo desde há uns anos outras várias funções. Sendo que a mais mediática é desempenhar desde as últimas eleições autárquicas o cargo de Vereador, num regime que é comum chamarem de oposição. De facto não são as minhas funções públicas que me levam a não ficar surpreendido com o convite para aqui estar. Naturalmente que muitos verão aqui uma atitude essencialmente política, um desejo ou ambição de protagonismo, ou mesmo uma reafirmação da posição que tomei há 2 anos e meio. Desde que fui candidato, as minhas palavras passaram a ter quase sempre um significado político-partidário. O que pensava, dizia ou escrevia passou a fazer parte de uma estratégia partidária à qual eu me converti. Porque a política como exercício é encarada quase como um acto de fé, ou pior ainda uma questão clubística. Não sou político, mas tento fazer política. Não tenho qualquer filiação partidária mas tento seguir uma linha (nem sempre reta) das minhas convicções ideológicas. Não tenho “Partido”, mas gosto de projectos partidários onde me revejo e estou convicto que a democracia deve ter por base a organização dos partidos. Agora sim confesso que a falta de surpresa deve-se à dimensão simbólica de alguns dos meus actos, que localmente catapultaram uma imagem de irreverência, de independência e de uma competência que eu sinto como desmesuradas. E daí que coloco desde já a expectativas muito baixas e as culpas em alguém que teve esta loucura de me deixar dizer aqui o que penso.
E irei então dizer o que penso, de uma forma tão eclética como vivo a minha própria vida e se me permitem algum epicurismo. Também de uma forma intensa e saborosa, sem pretensas genialidades mas com muitas generalidades. E há o detalhe, aquele em que estou habituado a perder muito tempo no desenho e me consome a cabeça em obra.
Anseio haver muita partilha neste espaço, sem fugir à sua intrínseca vaidade. Até porque penso que a vaidade pode ser um gesto de solidariedade. Pensar no nosso reflexo no outro é valorizar a sua opinião. E quem não pensa no outro, nunca poderá ser solidário.
Pois bem, para ser repetitivo cito alguém que diz que “somos o que fazemos” e eu aqui farei o que sou. Direi o que o que sou.

João Amorim Costa