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Olá Esforço! Estás equilibrado?

29 Janeiro 2016
Olá Esforço! Estás equilibrado?
Opinião
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Desde a era do Paleolítico que o Homem foi obrigado a esforçar-se para garantir a sua sobrevivência. Não bastava respirar, ver, ouvir e falar. Existia a necessidade de correr, caçar, pescar, em busca de alimentação por forma a não se tornar alimento. Analogamente, esta cultura enquadra-se milhares de décadas depois, num contexto completamente diferente. Continuamos a ter que nos esforçar diariamente para não sermos comidos. E já que falamos em alimento, encaremos a vida como um prato culinário. Demoramos muito tempo a decidir para depois criar o prato que pretendemos fazer, a comprar os ingredientes, a preparar e a confeccionar a receita (muitas vezes horas ou dias) e acabamos por degustar em meia dúzia de minutos, correndo o risco de não correr bem. Nunca vamos agradar a todos, é uma verdade. O nosso esforço nunca será percepcionado na sua totalidade pelo degustador. É uma utopia julgarmos que o nosso real esforço será valorizado pelo outro. As pessoas exigem resultados. Se foi difícil, se sofremos, ninguém quer saber e já é passado. O que importa é mesmo o resultado final e o impacto resultante das nossas ações.
Entramos, assim, num novo Mundo: o do esforço equilibrado.
Precisamos de equilíbrio em todos os ingredientes que utilizamos, sejam eles tangíveis ou intelectuais.
Já repararam que “nós mesmos” só estamos realizados quando estamos em esforço? Quanto maior é o esforço, melhor sabe!
Acordar cedo, trabalhar, treinar, não engordar, estar saudável, ler, pensar, deslocar, tudo isto implica um gasto energético, e acima de tudo um sacrifício. Sacrificamos o nosso conforto pelos resultados que todas estas ações acarretam. Sim, porque tudo isto que fazemos apenas acontece porque queremos o pós-esforço. E são meramente esses resultados que nos elevam a auto estima, a realização pessoal e que nos motivam para os suplícios do dia seguinte. A melhor forma para desenvolvermos a nossa autoconfiança é fazer o que mais nos assusta e “rezar” para que seja um sucesso. Temos que sacrificar vários recursos, assumindo custos de oportunidade elevados, para conseguirmos estar minimamente satisfeitos. E lá no fundo, somos uns eternos insatisfeitos e queremos sempre mais. Afinal, que espécie somos nós? Começo a duvidar seriamente da “nossa “ sanidade mental. Se é que a temos. Só nos sentimos bem depois de algo desconfortável e doloroso. E este sentimento é demasiado efémero para ser verdade. Muitas vezes dura uns segundos. Porque já queremos mais a seguir. Que complicação.
A única solução que encontro para este dilema é o tão desejado Equilíbrio. Equilíbrio nas decisões, nas abstenções, nos temperos, nos afectos. Mas sobretudo nas decisões. Sim, aquelas coisas que fazem fronteira com os hábitos. Cuidado com estes, não são pensados, são comportamentos inconscientes e podem mudar a nossa vida.
Tentem sempre decidir, ganhando consciência do que estão a fazer sem ser hábito. Todos os dias tomamos centenas de “decisões”, sejam elas: a hora em que acordamos, salada ou hamburger, o café com ou sem açúcar, a compra de umas calças, o que dizer aos filhos antes de sair de casa, a postura no emprego e temos que ter a noção que todas terão um impacto, até as que aparentam ser insignificantes. Poucas no imediato. Muitas à posteriori.
Vivam em equilíbrio como o “nem sempre nem nunca”, pois este chavão é o dono da razão.
E não se esqueçam que a vida, para além de uma receita, é também uma bicicleta. Só em movimento é que conseguimos estar em equilíbrio.

Ana Rita Costa