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Crónica de Sonho de um Sonhador Crónico

1 Outubro 2015
Crónica de Sonho de um Sonhador Crónico
Opinião
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Habitualmente a minha presunçosa e provocadora sapiência assina Sermente. Ela é autónoma.  Desconheço-a. Raramente a compreendo. E não pretendo nunca defendê-la ou justificá-la. Assim será com esta crónica no Renovação. Não sei se esta oportunidade é apenas o altifalante de mais uma voz, se a prova da plural abrangência. De qualquer das formas, é com honestidade e gratidão que correspondo a ambas.
Estou na Galiza. A distância não permite grandes afastamentos. Apenas aproximamentos a outras realidades. Catalunha será independente, garante-me o homem da bodega com Riojas tintos e Ribeiros brancos no frapé. Os vinhos da Galiza devem aos vinhos portugueses anos de trabalho. Bebo-os com a satisfação de quem gosta de os beber e critico-os com a presunção de quem gosta de os cheirar. Anos. Muitos anos nos separam. Aqui, vamos muito à frente. (Já no que diz respeito às praias e ao marisco, a história é outra.)
Ser o parente pobre de um país, como é a Galiza (lembro-me do interior português), significa, ainda assim, grande higiene e saúde no carácter. Aquilo que escasseia no gourmet, nas sedes de decisão e nos elegíveis. Mesmo que venham da região pobre. Não pretendo de todo defender a pobreza enquanto enobrecedor de carácter, mas essa simplicidade e transparência existe e está, efectivamente, bem patente nos comes e bebes. A Galiza tem vinhos menos bons que os nossos e não são certamente para cheirar, são para beber. Têm menos álcool, menos preço, menos maquilhagem e menos sabedoria, mas têm uma grande honestidade, a tal que os nossos vinhos e os nossos elegíveis perderam quando nos convenceram de que foram feitos para cheirar. Se nos vinhos consigo considerar que se trata de uma evolução, nos nossos candidatos lamento que o perfume perturbe a percepcão da ausência de uva.

Sermente in Menos, Muito Menos