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Presidente da Agros Idalino Leão diz que “setor do leite vive maior crise dos últimos 20 anos”

1 Setembro 2022
Presidente da Agros Idalino Leão diz que “setor do leite vive maior crise dos últimos 20 anos”
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O presidente da Agros, uma das maiores uniões de cooperativas de produtores de leite em Portugal, sediada na Póvoa de Varzim, diz que o setor leiteiro “está a viver uma das maiores crises dos últimos 20 anos”
Idalino Leão apontou que o custo de produção para os agricultores subiu “na ordem dos 50%”, relacionados com a situação de seca, a guerra na Ucrânia, e a crise no setor da energia, falando em “desânimo devido a condições incomportáveis” para os produtores.
“Estou muito preocupado. Esta é a situação de crise mais grave no setor do leiteiro, provavelmente, nos últimos 20 anos. Os preços de produção ligados à agricultura ficaram completamente descontrolados. O custo de produzir um litro de leite subiu na ordem dos 50%. Isso tem levado ao desânimo e ao abandono de muitas explorações”, disse o presidente da Agros.
O responsável vai mais longe e admite que caso não sejam tomadas medidas em toda a fileira do setor, e não se concretize mais apoio do Estado, pode “a curto prazo faltar leite nas prateleiras dos consumidores, nomeadamente leite de origem portuguesa”.
“O que todo o setor defende é que o preço pago ao produtor suba, acompanhando as tendências do mercado, e que esta subida aconteça também nos outros elos da cadeia [indústria e distribuição], para trazer sustentabilidade toda esta fileira”, analisou Idalino Leão.
O presidente da Agros considera que “será inevitável que o custo para o consumidor final suba” e acredita que a sociedade “vai entender que esse é ajuste é necessário”.
“Se os preços não subirem para o consumidor, não há forma de conseguirmos compensar os aumentos de custos que os agricultores. Para que todos pensem, costumo lembrar que, atualmente, um litro de leite, que alimenta uma família típica durante um dia, está mais barato do que um café”, exemplificou.
Idalino Leão sente a preocupação do governo com esta matéria, mas insta o executivo a “olhar para a agricultura como um setor estratégico de soberania alimentar”, desafiando a que sejam tomadas medidas de apoio.
“Há ações que governo pode e deve fazer, nomeadamente nos custos de energias fixos associados ao nosso setor. Os preços da eletricidade e do gasóleo estão incomportáveis. Em Espanha, por exemplo, há uma diferença de 30 cêntimos no gasóleo. Se não houver essa equidade, pelo menos, na Península Ibérica, será impossível os agricultores portugueses competirem no mercado ibérico”, alertou o líder da Agros.
O responsável lembrou, também, a questão de seca, partilhando que “há já agricultores que não têm alimento nos pastos para os animais, e precisam de ser ajudados”.
“A agricultura tem aportado muito para o PIB nacional, é uma atividade que fixa as pessoas nos territórios menos povoados. Mas, para que essa sustentabilidade social e ambiental continue a existir, é preciso que a atividade tenha, também, sustentabilidade económica”, acrescentou.
Todos estes temas vão ser alvo de debate na iniciativa Agrosemana, a Feira Agrícola do Norte, que depois de dois anos de interregno, devido à pandemia de Covid-19, regressa esta quinta feira, para quatro dias de atividades, no Espaço Agros, na Póvoa de Varzim.