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Ruas enfeitadas, farturas, carrosséis e tendas marcam regresso do Senhor de Matosinhos

21 Maio 2022
Ruas enfeitadas, farturas, carrosséis e tendas marcam regresso do Senhor de Matosinhos
Cultura
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Ruas enfeitadas, cheiro a farturas, barulho de carrosséis e louças espalhadas pelas tendas, é assim que está e estará Matosinhos até 12 de junho, a festejar o Senhor de Matosinhos que regressa, dois anos depois, devido à Covid-19.
Esta romaria, que se realiza há 700 anos e atrai anualmente cerca de dois milhões de visitantes, está de volta este ano para alegria dos comerciantes porque é uma feira “muito importante para o negócio” e das pessoas que já “têm saudades de barulho, movimento e de ver louças e canecos espalhados pelo chão”.
Os comerciantes, muitos dos quais ainda estão a ultimar aquela que será a sua “morada” nas próximas semanas, estão com “grandes expectativas” porque acreditam, e sabem da experiência de outras romarias já realizadas a Norte, que as pessoas estão com “muita fome de festas”.
Montada num escadote, Maria Clarisse Ferreira estava a pendurar a iluminação nas bancas dos gelados, do algodão doce e das pipocas quando, questionada sobre expectativas, não hesitou em responder estar à espera de “muita, muita, muita gente” porque, acrescentou, “o povo está com muita fome de festas”.
“Não tenha dúvidas, o povo está ansioso para isto tanto que, ainda estamos a abrir as tendas, e já andam pelas ruas. Esta festa é muito boa, muito boa mesmo”, disse.
Situada na zona dos divertimentos, cuja abertura se preparava em muitos deles com a colocação dos carrinhos de choque nas pistas ou montagem das bilheteiras, Maria Clarisse Ferreira, que vem a Matosinhos há mais de 30 anos, espera que o São Pedro ajude e “mande muito sol” para, assim, vender muitos gelados.
Também José Jales estava a acabar de atar os elásticos de salto, um dos divertimentos presentes na feira, quando confessou já “estar mesmo” com saudades do Senhor de Matosinhos.
Apelidando-a de uma das “melhores festas do Norte do país”, o comerciante acredita fazer “muito negócio” porque esteve na Festa das Cruzes, em Barcelos, e viu como as “pessoas estão ansiosas por romarias”.
Contudo, José Jales admitiu ter subido “ligeiramente os preços” dos saltos porque os custos aumentaram muito e, após dois anos em casa devido à pandemia, isso ainda se reflete mais.
Também Acácio Alves, vendedor de guloseimas e sumos e presente na festividade há mais de 20 anos, afirmou ter subido “um pouco” os preços porque “senão não dá” para aguentar os custos.
“Tudo subiu”, reforçou, acrescentando estar “muito satisfeito” pelo regresso presencial.
Apesar de ainda nem todas as tendas estarem abertas e de muitas estarem “semiabertas” com os seus proprietários a tirar os artigos dos caixotes de papelão, colocar luzes ou fazer limpezas eram muitas as pessoas que andavam já nas ruas.
Exemplo disso era Adelina Costa, de 78 anos, que ia espreitando aquilo que as tendas que já estavam compostas tinham à venda, parando numa de chás à procura de um bom para a voz.
Dizendo estar “aflita” da voz, atribuindo o mal às mudanças de tempo, Adelina assumiu que este foi apenas um pretexto para sair de casa e “ir a correr” ao Senhor de Matosinhos que tanta falta lhe fez nos últimos dois anos.
“Acredite que é verdade. Esta festa faz-nos muita falta, esta alegria, este convívio, este barulho”, comentava, dizendo que por causa de ser uma festa com muita gente decidiu trazer máscara.
Também Miguel e Ana, acompanhados da filha Joana, vieram de Famalicão a Matosinhos ter com um casal amigo e visitar o Senhor de Matosinhos no dia em que abriu porque temeram que ao esperar pelo fim de semana houvesse “demasiada gente”.
“A pandemia voltou a piorar e nós temos um bocadinho de medo, por isso, decidimos vir hoje”, frisaram.
À medida que se caminha pelas ruas, avista-se uma fila inteira de tendas de louças onde sobressaem as andorinhas em barro, as tigelas ou as assadeiras, uma das marcas desta romaria.
Ainda a desempacotar as peças e a limpá-las estava David, de Barcelos, que aguardava este regresso, apesar de queixar-se dos custos associados a esta profissão, nomeadamente numa altura em que a inflação aumenta.
“Isto já não dá lucro. Pagamos muitos impostos, as coisas aumentaram e nós, para estarmos aqui hoje, já temos três dias de trabalho a montar a tenda, colocar o artigo, é duro”, comentou.
Apesar de não aumentar os preços, David contou que tem ali muito material que, durante estes dois anos, não saiu do armazém porque as romarias foram suspensas.
Em frente às louças do David de Barcelos está a Lola das farturas, que não tem dúvidas de que o Senhor de Matosinhos vai “bombar” porque há muita “ânsia” nas pessoas para voltar à normalidade após dois anos de “pesadelo”.
Devido ao aumento dos preços do óleo e da farinha, consequência da invasão russa à Ucrânia, Lola viu-se obrigada a aumentar um euro na dúzia das farturas. Aumento esse, considera, que não vai afastar a clientela porque as pessoas sabem como a “vida está cara”.
Paralelamente à feira, a Câmara de Matosinhos tem agendadas dezenas de iniciativas religiosas, lúdicas, culturais e desportivas para estas semanas, destacando-se a realização de um concerto do artista David Carreira a 3 de junho, nos jardins da Biblioteca Florbela Espanca, com entrada gratuita.