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Fecho de refinaria da Galp e Covid-19 são “espécie de terramoto” para Matosinhos e Norte do País

16 Fevereiro 2021
Fecho de refinaria da Galp e Covid-19 são “espécie de terramoto” para Matosinhos e Norte do País
Economia
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O anunciado encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos, a juntar à atual pandemia de Covid-19 é uma “espécie de terramoto” para a restauração, hotelaria e comércio locais, disseram representantes dos setores.
Se sem o atual estado pandémico o fecho do complexo petroquímico era “mau” para Matosinhos com a Covid-19 vem causar uma “espécie de terramoto”, considerou o presidente da Associação Empresarial do Concelho de Matosinhos (AECM), Fernando Sá Pereira.
Falando na “extrema importância” da refinaria para o concelho, o dirigente referiu que o seu fecho significa desemprego, empobrecimento e prejuízo em diferentes negócios.
A concretizar-se o seu encerramento, os trabalhadores, muitos dos quais de fora do concelho, deixam de fazer compras, de comer ou dormir em Matosinhos, sublinhou, recordando estarem em causa cerca de 1.500 postos de trabalho, dos quais 500 diretos.
Comparando a situação a uma “bola de neve”, Fernando Sá Pereira ressalvou que a situação é “muito má” para Matosinhos, mas também para a região Norte e para Portugal.
Por sua vez, e realçando a “preocupante” perda de postos de trabalho, o presidente da Associação de Restaurantes de Matosinhos, Rui Sousa Dias, não tem dúvidas que o fecho do complexo petroquímico terá impactos no setor.
“Seguramente que terá impactos”, salientou, sem contudo os conseguir quantificar, para já.
O responsável recordou que a refinaria, quer pelas pessoas que lá trabalham, quer por aqueles que a visitam em contexto laboral, “mexem” com a restauração.
E que o diga o proprietário da Adega Amarela, nas imediações da refinaria, que estima uma quebra até 30% por dia.
“Estou preocupado, claro, porque se o negócio diminuir vou ter de dispensar alguns dos meus seis funcionários, algo que não quero”, desabafou o empresário.
O proprietário revelou “depender bastante” dos trabalhadores da Petrogal aos almoços e fins de semana, motivo por que se diz “muito apreensivo” quanto ao futuro.
Também o dono do Bonn Leça, restaurante que fica na Avenida Fernando Aroso e emprega mais de uma dezena de pessoas, admite estar “muito preocupado” porque, a juntar a isto, está o coronavírus que o atirou para um serviço exclusivamente de ‘Take-Away’ que o faz faturar só 10 ou 15% do que faturava em fevereiro de 2019.
“São logo duas coisas que nos afetam: o vírus e as empresas que estão a fechar. E o aeroporto também está a despedir muita gente. Mas a Petrogal preocupa muito”, disse José Gonçalves.
O Bonn Leça tem 26 anos de vida, mais de metade da idade da refinaria da Galp, e vive de um orçamento que José Gonçalves acredita que dependa em mais de 25% da Petrogal ao almoço e em dias de semana.
Quem, no mesmo setor, tem opinião um pouco diferente é António Araújo, responsável pelo restaurante “O António”, cuja especialidade são os peixes frescos, o polvo e o cabrito e vive de uma clientela “média alta”, como o próprio descreveu.
“É verdade que afeta qualquer coisa. E o pior são os milhares de famílias que vivem da Petrogal, mas de certeza que vão encontrar uma solução para aquele espaço. Em termos de poluição vai ser bom [se mudarem]. E outras coisas virão benéficas”, comentou António Araújo.
O desaparecimento da poluição e dos cheiros e um maior “sentimento de segurança” são “as coisas positivas” que Fernanda Lemos, de 54 anos, espera que o fecho da refinaria da Galp de Matosinhos traga.
Mas, além disso, tem ainda a expectativa de ver a refinaria reconvertida para evitar centenas de despedimentos, que é “sempre uma má notícia”, seja onde for, disse, enquanto caminhava à beira-mar.
Igualmente preocupado com o desemprego, Pedro Faria, de 46 anos, 26 dos quais a residir em Matosinhos, espera que seja encontrada uma solução para os trabalhadores, apesar de se mostrar satisfeito pela decisão de fecho por já ter apanhado “alguns sustos”.
“De vez em quando há umas pequenas explosões e incêndios, assim ficamos mais descansados”, relatou, embora tema o que ali se venha a instalar.