Última hora

Artistas portugueses e estrangeiros gritam nas redes sociais pelo futuro da Cultura em Portugal

31 Janeiro 2021
Artistas portugueses e estrangeiros gritam nas redes sociais pelo futuro da Cultura em Portugal
Cultura
0

Milhares de mensagens, publicadas nas redes sociais por trabalhadores da Cultura, alertaram este sábado para a situação do setor, um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19, e para a insuficiência de apoios, no âmbito do protesto convocado por associações profissionais.
Atores, encenadores, músicos, escritores, compositores, bailarinos, coreógrafos, cineastas, artistas visuais, produtores e técnicos de espetáculo, companhias de dança e de teatro, grupos de música, organizadores de festivais reuniram-se sob o mesmo apelo, “na rua pela cultura” (#naruapelofuturodacultura).
A iniciativa de protesto foi justificada por, depois de quase um ano de “atividade profundamente condicionada pela pandemia” de Covid-19, persistirem “as brutais consequências de toda uma vida de precariedade laboral”.
Artistas visuais como Alice Geirinhas, Adriana Molder, Ângela Ferreira e Fernanda Fragateiro, músicos como Luís Varatojo, Rita Redshoes e Surma, atores como Gonçalo Waddington, Ivo Canelas, Joana Seixas, Maria Rueff, Rita Loureiro e Sónia Balacó, as cantoras Ana Bacalhau e Teresa Salgueiro, o produtor Luís Urbano, os realizadores Fernando Pêra e Laura Carreira são apenas alguns dos muitos autores das mais de 2.200 publicações de protesto reunidas no Facebook.
Às quais se juntaram outras tantas, entre as redes sociais Twitter e Instagram, mesmo com algumas repetidas, nas diferentes plataformas.
As mensagens, em muitos casos, tomaram forma de expressão artística, da fotografia à ‘performance’, dos pequenos filmes, aos desenhos, ao ‘cartoon’ e à instalação.
O encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, recuperou uma imagem do cenário de “By Heart”, uma das suas peças mais aplaudidas a nível nacional e internacional. A companhia O Teatrão, de Coimbra, fotografou-se junto à porta fechada da Oficina Municipal de Teatro.
Sara Barros Leitão, atriz, encenadora, ativista, uma das vozes da Plateia – Associação dos Profissionais das Artes Cénicas, fotografa um imenso cartaz: “Precisamos de medidas de emergência maiores do que este cartaz. Medidas que não deixem ninguém para trás”.
As atrizes Isabel Abreu e Isabel Zuaá, por seu lado, gritaram juntas: “Isabéis que gritam até ficar sem ar. Isabéis que querem um país que entenda a importância real destes gritos. É sobre o futuro da cultura. É sobre o nosso futuro. De tod@s sem excepção”.
O ilustrador António Jorge Gonçalves, junto à mais carregada das nuvens, escreveu: “Para a vida poder ter desenhos, canções, livros, filmes é preciso que quem os faz tenha uma vida”.
O coreógrafo João Fiadeiro juntou-se ao protesto, em filme e em passo de corrida, pela teimosia de “não desistir”: “Insistir, resistir”, para que a lucidez prevaleça, uma lucidez que só existe se a cultura e a arte persistirem, defendeu.
“A cultura é o elemento aglutinador de uma sociedade. A cultura é a construção histórica da humanidade”, repetem outras publicações, que não esquecem as palavras de ordem mais antigas, como a reclamação de 1% da despesa orçamental, para os apoios públicos ao setor.
Previsto inicialmente para a rua, o protesto deste sábado passou para as redes sociais após a declaração do Estado de Emergência.
O sindicalista Rui Galveias, coordenador do Cena-STE, umas das estruturas que o convocou, disse que era importante mantê-lo “de alguma forma”, ficando a rua “adiada para outro momento”.
A paralisação da Cultura começou na segunda semana de março de 2020, depressa se estendeu a todas as áreas e, no final do ano, entre “plano de desconfinamento” e novos estados de emergência, o setor somava perdas superiores a 70% em relação a 2019.
Para os profissionais, são necessárias, por isso, “medidas de fundo”, que vão além do Estado de Emergência.
“Estamos a falar de uma dimensão humana muito grave”, disse Rui Galveias. Aquando da convocatória do protesto, no início de janeiro, o sindicalista lembrara a “situação verdadeiramente dramática” de muitos profissionais, “de esgotamento financeiro, de incapacidade para pagar a renda de casa, para pagar o gás, para manter a casa quente”, ao fim de 10 meses de paralisação.
Além do Cena-STE, o protesto foi promovido por entidades como a Ação Cooperativista, a Plateia, a Associação Portuguesa de Realizadores, o Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia e a Rede – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea.
A convocatória, que também manifestava “enorme preocupação” pelo “desinvestimento na cultura por parte dos municípios” foi reproduzida na maioria das mensagens publicadas.
Medidas de proteção social, melhoria e cumprimento da legislação sobre reagendamentos e cancelamentos e o estabelecimento de vínculos laborais formais estão entre as reivindicações.
A Agência da Curta Metragem, a Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes, a Associação Portuguesa de Empresários e Artistas de Circo, a Apordoc – Associação pelo Documentário, a Associação Portuguesa de Técnicos de Audiovisual, os festivais de cinema Curtas Vila do Conde, Doclisboa, IndieLisboa, Monstra, PortoPostDoc, Queer, Portugal Film, Produtores de Cinema Independentes Associados, SOS Arte PT e a União Antifascista Portuguesa e a Comissão Permanente para a Cultura de Vila do Conde estão entre as 40 entidades que subscreveram o protesto.