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Valter Hugo Mãe reúne memórias de “um tempo feliz” no seu novo livro intitulado “Contra Mim”

29 Outubro 2020
Valter Hugo Mãe reúne memórias de “um tempo feliz” no seu novo livro intitulado “Contra Mim”
Cultura
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O escritor vilacondense Valter Hugo Mãe revisita a infância no seu novo livro, “Contra Mim”, que reúne memórias de “um tempo feliz”, até à adolescência, “um tempo de liberdade e imaginação”.
“Fui sempre uma criança imaginativa”, disse Valter Hugo Mãe, sobre o novo livro, reconhecendo que continua hoje um “menino sonhador”. Como mais novo dos quatro irmãos, a sua função “era ser criança”: “esse era o meu papel, ninguém dependia de mim para quaisquer tarefas”, afirmou.
A obra “Contra Mim”, recém-chegada às livrarias, é constituída por curtas narrativas, que se podem confundir com contos, como reconheceu o autor, alertando, todavia, que “não o é”. “A lógica de leitura é a mesma de qualquer romance. Aliás, todas as vidas são a imitação de um romance”.
“Esta é, em parte, uma verdade, pelo menos a minha verdade, o que retive e que conto à minha maneira, o que guardei do que vivi e do que fui”, garantiu o escritor vilacondense.
Valter Hugo Mãe desfia estas histórias, como quem as conta à lareira numa aldeia do Norte do país, de onde é originária a sua família.
A primeira história é de uma memória familiar, antes de ter consciência de si: o namoro não consentido entre os seus pais, que acabou num casamento, e a partida do casal para Angola, onde Valter Hugo Mãe nasceu.
De Angola ficaram esparsas recordações, a alegria, as pessoas vestidas de cores garridas, as estatuetas de pau-preto e os livros de “cowboys” do pai, entre outros objetos que por lá ficaram, quando a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, surpreendeu a família numas férias em Portugal.
Caxinas, em Vila do Conde, acabaria por ser o seu destino, localidade onde cresceu e se radicou.
No conjunto das memórias da infância, da família, do crescimento, está também o afastamento de África dos portugueses, aqueles que pensavam que, nesse outro continente se comia terra e, por isso, as pessoas ficavam escuras, como uma vez lhe contaram, à porta de uma mercearia, quando tinha seis anos.
Valter Hugo Mãe disse que, “por mais que se afaste da sua obra, o escritor tem, por vezes, necessidade de que o livro passe pela sua vida e a traduza”. Por isso, “Contra Mim” reflete-o especialmente, embora qualquer uma das suas outras ficções seja também, de outra maneira, uma dimensão sua.
“Contra Mim” é igualmente resultado do período de confinamento, este ano, que levou o autor a refletir sobre si e sobre esse “tempo sem pecado”.
“Surgiu essa necessidade, que me favorece”, disse Valter Hugo Mãe, como que “uma certa nostalgia”.
Sobre o título, o escritor vilacondense Valter Hugo Mãe afirmou: “é um enigma”.
Valter Hugo Mãe publica regularmente, no Jornal de Letras, Artes e Ideias, as crónicas de uma “Autobiografia Imaginária”, e, na Notícias Magazine, as da “Cidadania Impura”.
Valter Hugo Mãe é autor de sete romances, entre os quais “O remorso de Baltazar Serapião”, que venceu o Prémio José Saramago/Círculo de Leitores, em 2007, e “A Máquina de Fazer Espanhóis”, distinguido com o Grande Prémio Portugal Telecom de literatura, em 2012.