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Portugueses incluindo vilacondense escaparam “por milagre” no naufrágio do Geo Searcher

28 Outubro 2020
Portugueses incluindo vilacondense escaparam “por milagre” no naufrágio do Geo Searcher
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Um dos tripulantes portugueses do pesqueiro anglo-sul-africano Geo Searcher, que afundou no atlântico sul, disse esta terça feira que a tripulação portuguesa sobreviveu “por milagre” depois de quase meia hora dentro de água até ao resgate.
“Só sobrevivemos porque os botes estavam na água, se não estivessem na água ninguém sobrevivia, ninguém mesmo”, declarou o técnico naval português, Daniel Silva, que se encontra agora a cumprir um período de quarentena devido à Covid-19 na Cidade do Cabo.
O naufrágio do navio Geo Searcher, com 62 tripulantes a bordo, ocorreu na tarde de quinta feira, 15 de outubro, a 16 quilómetros da ilha inglesa de Gough, uma ilha vulcânica do arquipélago de Tristão da Cunha, no Atlântico Sul, onde o navio pescava lagosta quando “rasgou o casco ao embater numa rocha”, referiu Daniel Silva.
De acordo com o técnico naval, que era o eletricista do navio pesqueiro desde 2016, os que se meteram na primeira lancha para sair do navio que se afundava, “foram à água”, incluindo os cinco portugueses, porque a lancha se virou devido a “uma manobra mal feita”.
“Estive cerca de 25 minutos na água e os outros portugueses estiveram todos na água”, frisou Daniel Silva.
“Tivemos a sorte dos botes e tivemos que andar 16 quilómetros até ao ponto onde se encontra a estação meteorológica da ilha de Gough, e os homens lá, com pouca experiência, ainda conseguiram içar a todos lá para cima com uma grua, que não é para transportar pessoas”, afirmou.
Daniel Silva explicou que “o pessoal foi para as balsas salva-vidas e os botes depois chegaram-se às balsas e começaram a fazer o reboque das balsas para a posição da grua para tentarmos subir lá para cima para a estação meteorológica”.
A África do Sul mantém desde a década de 1950 uma estação meteorológica na ilha inglesa de Gough, que o técnico português descreveu como sendo “uma zona muito acidentada” e com águas “muito revoltas”, que dificultam a aproximação.
“Mas lá conseguimos ser içados lá para cima e fomos bem recebidos e ficámos à espera do Agulhas”, salientou Daniel Silva.
O navio, registado em Belize e com licença de pesca inglesa, andava na pesca da lagosta naquele arquipélago, a cerca de 2.500 quilómetros do Cabo da Boa Esperança.
“O tempo, milagrosamente, estava bom, não estava sol, mas estava um mar calmo, que é o mais importante, porque se não estivesse, não tínhamos hipótese também de sobreviver”, salientou Daniel Silva.
Devido às medidas excecionais de confinamento devido à Covid-19 na África do Sul, o técnico português, de 48 anos, oriundo da Gafanha da Nazaré, disse ter embarcado na cidade namibiana de Walvis Bay, a 2 de setembro juntamente com mais quatro engenheiros portugueses, também de Aveiro e de Vila do Conde, que eram responsáveis pelo funcionamento da casa de máquinas do Geo Searcher, agora afundado.
“Aquela pesca é muito complicada pela simples razão de que estamos sozinhos, não temos socorro, não temos hipóteses, nós estamos por conta própria”, frisou Daniel Silva, para quem o navio de resgate sul-africano SA Agulhas II, que os foi buscar à ilha de Gough, “fez um bom trabalho, mas ninguém nos valeu senão nós próprios”.
À chegada à Cidade do Cabo, no final do dia desta segunda feira, os técnicos navais portugueses foram assistidos pelo Cônsul-Geral de Portugal no Cabo, José Carlos Arsénio, com documentos de viagem provisórios.
“Estou ainda com a mesma roupa com que deveria entrar ao serviço no dia 15 [de outubro, data do naufrágio] (..) por acaso tenho os cartões de plástico, mas ainda não posso fazer uso deles porque estou preso”, afirmou Daniel Silva, salientando que o colega José Santiago, o chefe de máquinas, “não tem mesmo nada, nem cartões e documentos”, frisou Daniel Silva.
“As nossas autoridades deveriam ter um meio fácil para nós comunicarmos onde estamos”, referiu o técnico naval português, frisando que esteve recentemente “três meses fechado num navio sem condições nenhumas”, na Cidade do Cabo, “à espera de arranjar voo para regressar a Portugal”.
Daniel Silva avançou ainda que o navio Geo Searcher, pertencente à anglo-sul-africana Ovenstone, detinha uma quota anual de 300 toneladas de pesca de lagosta, para a qual realizava entre duas a três viagens por ano. A empresa conta ainda com uma fábrica de processamento de lagosta na ilha de Tristão da Cunha.