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Cineasta João Paulo Miranda apresentou filme “Casa de Antiguidades” no Curtas Vila do Conde

15 Outubro 2020
Cineasta João Paulo Miranda apresentou filme “Casa de Antiguidades” no Curtas Vila do Conde
Cultura
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O cineasta brasileiro João Paulo Miranda Maria apresentou, no festival Curtas Vila do Conde, o filme “Casa de Antiguidades”, primeira longa-metragem da carreira, uma metáfora para o Brasil atual e para o lado ultraconservador do país.
“Casa de Antiguidades”, que foi o filme de abertura do Curtas Vila do Conde, fez parte da seleção oficial do festival de Cannes, que não se realizou, mas apresentou os filmes que fariam parte da programação, e passou também por Toronto, na estreia em formato mais longo, do cineasta brasileiro nascido em 1982.
Antes, as curtas que dirigiu, como “Command Action” (2015) e “A moça que dançou com o Diabo” (2016), valeram-lhe vários prémios internacionais, entre os quais uma menção especial em Cannes. A norte-americana Variety refere-se agora à nova obra como um dos favoritos à nomeação para o Óscar de melhor filme internacional.
“Esta história começou num sonho, em que me via a mim mesmo, mais velho, num lugar desconhecido. Encontro uma casa abandonada e tinha pertences da minha infância, a história dos meus pais, e depois de outras gerações, que eu já não sabia quem eram. Era uma mistura de elementos da minha história particular com a de outros”, conta o realizador.
Começou a escrever o argumento. E, já em 2015, trabalhava nele, a imaginar a personagem “diante de um Brasil que não conhece, mas onde estranhamente está escondida, guardada” uma parte de si.
“Para mim era muito importante fazer uma síntese da minha história, também. Venho de uma cidade no interior de São Paulo, que não é exatamente a região do filme, mas de certa forma parecida, por ser tradicional, conservador, católico. Estudei numa escola alemã muito rígida e tudo ficou enraizado”, conta.
Essa experiência pessoal passou para este contacto do protagonista com um “Brasil muito desconhecido, com raízes europeias tão fortes”, no caso de descendência austríaca, fruto do êxodo, “real”, do início dos anos 1940 – “refugiados e pessoas que fugiram da Guerra na Áustria e na Alemanha, muitos deles do lado nazi”, que vieram formar uma cidade no sul brasileiro.
Assim, chega ao Brasil de hoje, presidido por Jair Bolsonaro. “Várias situações deram-me a ver esse lado conservador da sociedade brasileira que muitos não conhecem, e que fica muito mais evidente com Bolsonaro; a existência desse movimento conservador que já existia muito antes dele, mas não tinha um lugar, uma permissão, como está a ter agora com esse governo”, atira.
O resultado do filme é “quase um retrato alegórico”, que vai estrear-se no Brasil a 19 de novembro, e cujo elenco é encabeçado por Antonio Pitanga, que já tinha entrado no único filme brasileiro distinguido com a Palma de Ouro, em Cannes, “O Pagador de Promessas” (1962), dirigido por Anselmo Duarte.