Os horticultores da Póvoa de Varzim viram-se impossibilitados de escoar para o mercado mais de 200 toneladas de alface, devido às contingências provocadas pela pandemia de Covid-19, acabando por inutilizar essas culturas.
“Atrasámos a colheita até ao limite, mas não houve forma de escoar o produto para o mercado. Quando a alface perde qualidade para ser vendida, também já não serve para comer. Por isso, tivemos de as arrancar e incorporar no solo como fertilizante”, explicou Manuel Silva, presidente da Horpozim, Associação Horticultores da Póvoa Varzim.
O dirigente estimou o prejuízo em “várias dezenas de milhar de euros” e apontou o encerramento dos restaurantes, hotelaria, mercados e feiras como uma das principais dificuldades para vender os produtos hortícolas.
“Na restauração e hotelaria, as saladas são, muitas vezes, colocadas à disposição do cliente, quer este coma ou não. Mas, com esses estabelecimentos fechados, os canais para escoar produtos hortícolas diminuíram e a oferta aumentou. Além disso, nestes últimos meses também as feiras e mercados estiveram encerrados, retirando outras possibilidades de venda”, disse Manuel Silva.
O líder da Horpozim, que engloba cerca de 600 produtores da Póvoa de Varzim, mas também de concelhos vizinhos, apontou, ainda, que alguns produtos que normalmente eram encaminhados para a exportação também “não foram vendidos, devido a uma falta generalizada de transporte que se verificou desde meados de março”.
“Quando foi decretado o Estado de Emergência, até houve uma procura maior e os preços estavam estáveis, mas depois houve uma grande retração com a falta de mercado. Os pequenos agricultores foram os mais afetados porque os seus canais de venda não se estendem às grandes superfícies”, acrescentou Manuel Silva.
O presidente da Horpozim espera que as culturas de verão, com produtos como pepinos, curgetes ou pimentos, possam vir a amenizar as perdas sofridas, mas ainda nota “um lento recuperar do setor”.
“Há algumas feiras e mercados na nossa região que já estão a abrir, mas as pessoas ainda vão a medo. É preciso que os consumidores voltem a ganhar confiança. Temos, também, alguma esperança na reabertura de alguns setores da restauração e hotelaria e também das cantinas escolares”, desabafou.
O dirigente lembrou que os apoios do Estado ao setor agrícola são praticamente insignificantes para as explorações mais pequenas e de cariz familiar, predominantes na região Norte, e que muitos produtores nem sequer se candidataram aos subsídios.
“No nosso caso, grande parte das explorações são minifúndios, com um hectare, para o qual está contemplado um apoio de cerca 200 euros. Ora, a burocracia que é preciso para aceder a esses apoios fica ainda mais cara das verbas que se pode vir a receber”, partilhou.
Ainda assim, Manuel Silva garantiu que os horticultores da região Norte “vão continuar a trabalhar para satisfazer as necessidades do país, cumprindo as regras da segurança alimentar, esperando colher proveitos desse esforço no futuro”.