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Produtores hortícolas da Póvoa de Varzim sem conseguir vender mais de 200 toneladas de alface

11 Maio 2020
Produtores hortícolas da Póvoa de Varzim sem conseguir vender mais de 200 toneladas de alface
Economia
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Os horticultores da Póvoa de Varzim viram-se impossibilitados de escoar para o mercado mais de 200 toneladas de alface, devido às contingências provocadas pela pandemia de Covid-19, acabando por inutilizar essas culturas.
“Atrasámos a colheita até ao limite, mas não houve forma de escoar o produto para o mercado. Quando a alface perde qualidade para ser vendida, também já não serve para comer. Por isso, tivemos de as arrancar e incorporar no solo como fertilizante”, explicou Manuel Silva, presidente da Horpozim, Associação Horticultores da Póvoa Varzim.
O dirigente estimou o prejuízo em “várias dezenas de milhar de euros” e apontou o encerramento dos restaurantes, hotelaria, mercados e feiras como uma das principais dificuldades para vender os produtos hortícolas.
“Na restauração e hotelaria, as saladas são, muitas vezes, colocadas à disposição do cliente, quer este coma ou não. Mas, com esses estabelecimentos fechados, os canais para escoar produtos hortícolas diminuíram e a oferta aumentou. Além disso, nestes últimos meses também as feiras e mercados estiveram encerrados, retirando outras possibilidades de venda”, disse Manuel Silva.
O líder da Horpozim, que engloba cerca de 600 produtores da Póvoa de Varzim, mas também de concelhos vizinhos, apontou, ainda, que alguns produtos que normalmente eram encaminhados para a exportação também “não foram vendidos, devido a uma falta generalizada de transporte que se verificou desde meados de março”.
“Quando foi decretado o Estado de Emergência, até houve uma procura maior e os preços estavam estáveis, mas depois houve uma grande retração com a falta de mercado. Os pequenos agricultores foram os mais afetados porque os seus canais de venda não se estendem às grandes superfícies”, acrescentou Manuel Silva.
O presidente da Horpozim espera que as culturas de verão, com produtos como pepinos, curgetes ou pimentos, possam vir a amenizar as perdas sofridas, mas ainda nota “um lento recuperar do setor”.
“Há algumas feiras e mercados na nossa região que já estão a abrir, mas as pessoas ainda vão a medo. É preciso que os consumidores voltem a ganhar confiança. Temos, também, alguma esperança na reabertura de alguns setores da restauração e hotelaria e também das cantinas escolares”, desabafou.
O dirigente lembrou que os apoios do Estado ao setor agrícola são praticamente insignificantes para as explorações mais pequenas e de cariz familiar, predominantes na região Norte, e que muitos produtores nem sequer se candidataram aos subsídios.
“No nosso caso, grande parte das explorações são minifúndios, com um hectare, para o qual está contemplado um apoio de cerca 200 euros. Ora, a burocracia que é preciso para aceder a esses apoios fica ainda mais cara das verbas que se pode vir a receber”, partilhou.
Ainda assim, Manuel Silva garantiu que os horticultores da região Norte “vão continuar a trabalhar para satisfazer as necessidades do país, cumprindo as regras da segurança alimentar, esperando colher proveitos desse esforço no futuro”.