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Póvoa de Varzim lembra Luis Sepúlveda como “grande impulsionador” do Correntes d’Escritas

19 Abril 2020
Póvoa de Varzim lembra Luis Sepúlveda como “grande impulsionador” do Correntes d’Escritas
Cultura
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O município da Póvoa de Varzim lamentou a morte do escritor chileno Luis Sepúlveda, aos 70 anos, lembrando o seu papel de “grande impulsionador” do festival literário Correntes d’Escritas, que se realiza na cidade.
“Foi com enorme pesar que o Município da Póvoa de Varzim tomou conhecimento do falecimento do escritor chileno Luis Sepúlveda. […] Agradecemos a sua amizade e o seu grande contributo, não só para a criação do Correntes d’Escritas, de que foi um grande impulsionador, como a importância da sua participação na primeira edição e seguintes”, pode ler-se num comunicado emitido pela Câmara Municipal poveira.
A autarquia, que enviou “um abraço amigo e solidário à sua mulher, a também escritora Carmen Yáñez e à família”, lembrou o carinho e admiração que o público e toda a organização do Correntes d’Escritas sempre teve pelo autor chileno.
“Organizador do Salón del Libro Iberoamericano de Gijón no qual se inspirou o Correntes d’Escritas e com o qual manteve uma parceria desde a sua primeira edição, Luis Sepúlveda foi um dos autores assíduos do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica tendo participado em mais de 10 edições, foi sempre um dos escritores mais esperados e solicitados pelo público”, pode ler-se no mesmo texto.
A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim lembrou que na última edição do Correntes, realizada em fevereiro, Luís Sepúlveda partilhou memórias e experiências da sua vida de exilado, refugiado, preso político no Chile, vítima do regime de Pinochet, numa mesa de debate com o tema “Era uma vez a Liberdade”.
“Definiu-a como a suprema aspiração de um homem e a síntese perfeita de tudo o que se pode alcançar, como uma soma de direitos durissimamente conquistados”, recordou a autarquia poveira.
Já Manuela Ribeiro, organizadora deste festival literário da Póvoa de Varzim, dedicado a autores de expressão ibérica, deixou, numa publicação transmitida pela Porto Editora, uma mensagem emotiva, considerando o escritor chileno “um imortal”.
“Foi por causa das Correntes d’Escritas que conheci o Luis Sepúlveda. Ficámos amigos. Despedimo-nos, como sempre, com um abraço, nas últimas Correntes. Recuso-me a aceitar que foi o último. Não foi. O nosso abraço será para sempre. O Luis Sepúlveda – Lucho para os amigos – foi e será sempre uma inspiração. Jamais esquecerei a sua generosidade. Na Literatura como na vida. O Lucho é um dos meus imortais”, transmitiu Manuela Ribeiro.
Luis Sepúlveda morreu aos 70 anos, em Espanha, em consequência da doença Covid-19, confirmou a Porto Editora.
O escritor chileno estava internado desde os finais de fevereiro num hospital de Oviedo, em Espanha, onde foi diagnosticado com Covid-19. Os primeiros sintomas ocorreram dias antes, quando esteve no festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.
A confirmação de que estava infetado com a Covid-19 levou, na altura, o Correntes d’Escritas a recomendar uma quarentena voluntária aos que participaram no festival e estiveram em contacto com o escritor chileno.
Tudo isto aconteceu ainda antes de as autoridades portuguesas confirmarem oficialmente qualquer registo de infeção em Portugal, o que só viria a acontecer a 2 de março.
Luís Sepúlveda, que nasceu no Chile a 4 de outubro de 1949, estreou-se nas letras em 1969, com “Crónicas de Piedro Nadie” (“Crónicas de Pedro Ninguém”), dando início a uma bibliografia de mais de 20 títulos, que inclui obras como “O Velho que Lia Romances de Amor” e “História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”.
Além da escrita, a sua vida foi marcada também por forte atividade política, tendo sido expulso de Moscovo, em 1970, onde se encontrava a estudar graças a uma bolsa conseguida através de um prémio literário, e posteriormente, regressado ao Chile, expulso do partido comunista.
Entrou então no círculo mais próximo do Presidente Salvador Allende, que acabou por ser destituído e morto, e com a instituição da ditadura de Pinochet no Chile, foi parar à prisão, primeiro, e depois ao exílio.
Luis Sepúlveda tem toda a obra publicada em Portugal – alguns títulos estão integrados no Plano Nacional de Leitura -, e era presença regular em eventos literários em Portugal e no mundo.