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Carenciados de Vila do Conde e da Póvoa de Varzim nas filas das refeições solidárias do Porto

24 Abril 2020
Carenciados de Vila do Conde e da Póvoa de Varzim nas filas das refeições solidárias do Porto
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A opção pelo ‘lay-off’ ou pela suspensão dos contratos laborais pelas empresas no contexto da Covid-19 teve uma repercussão direta no aumento das filas para as refeições solidárias no Porto, que em alguns casos triplicou a procura.
Diariamente, ao final da manhã e ao início da noite, em alguns pontos da cidade, são comuns filas de sem-abrigo em busca de uma refeição solidária, um problema que adquiriu contornos maiores com a chegada do novo coronavírus, obrigando a redimensionar toda a estrutura.
Três das obras solidárias do Porto mantiveram o apoio diário aos sem-abrigo, mas também, desde o início de março, a famílias carenciadas que perderam os seus rendimentos com o encerramento temporário da atividade em que laboravam.
Na Praça Marquês de Pombal há muito que há filas para comer, em direção à Porta Solidária, obra criada no seio da igreja da paróquia. Um cenário que, assim que março chegou, ganhou muito mais pessoas e extensão numa fila que começa agora na Rua Damião de Góis.
Na terça feira “servimos refeições a 443 pessoas, sendo que a nossa média diária de 2019 até março foi de 160 refeições”, relatou o padre Rúben Marques, precisando que a “média diária atual se situa agora nas 400 refeições”.
Nessas filas diárias, relatou o clérigo, sente-se hoje em dia “um grande peso da comunidade brasileira”, mas também é visível “um número razoável de jovens que tinham empregos ligados ao turismo, sazonais, e que ficaram sem rendimento”.
E já não é só quem reside no Porto que procura matar a fome na Porta Solidária, com o padre Rúben Marques a identificar também “pedidos de Rio Tinto, no concelho de Gondomar, e da Póvoa de Varzim”.
Preparado para este acréscimo na procura, devido a “uma grande campanha de angariação de bens”, são, contudo, os apoios que “chegam também de particulares, empresas e de várias paróquias do Porto bem como da Associação Comercial do Porto”, que estão a assegurar, segundo o padre, o serviço das refeições.
O redimensionamento chegou também ao voluntariado, conjugando o facto de “terem de poupar as habituais voluntárias, por serem de idade, com a chegada de outros, cujas associações deixaram de dar apoio, para manter o projeto ativo diariamente entre as 18 e as 20 horas, em regime de ‘take-away’”.
“Preocupa-nos que muitos deles, e ainda bem, tenham de regressar ao trabalho, pois as filas não vão diminuir. Vamos ver, depois de 2 de maio como vai ficar a rede de voluntários”, disse o padre.
Na zona oeste da cidade, a Casa Mãe Clara, projeto de responsabilidade social da Casa de Saúde da Boavista, viu também a procura por refeições disparar, bem como diversificar o tipo de carenciado.
A freira Regina Sousa, responsável pelo apoio solidário que diariamente serve “refeições completas entre as 12 e as 13 horas”, relatou que a procura “conheceu também um aumento substancial, passando de cerca de 60 diárias para 160”.
“Chega-nos gente de Gondomar, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, tudo pessoas carenciadas e são mais homens que mulheres”, disse a religiosa.
Também aqui, a chave para que nada falte surge do trabalho em rede, ou como prefere chamar-lhe, da “partilha de bens” que “acontece com a Porta Solidária e que alarga a capacidade de resposta”.
Também neste caso, Regina Sousa olha com expectativa para o que vai acontecer em maio: “espero que a situação estabilize a partir de maio, quando uma parte das pessoas poderá voltar a trabalhar e a obter o seu sustento”.
Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de Estado de Emergência, iniciado em 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 2 de maio prevê a possibilidade de uma “abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais”.