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Aumento de temperatura e subida do mar vão afetar mais de 100 mil pessoas em Portugal

20 Fevereiro 2020
Aumento de temperatura e subida do mar vão afetar mais de 100 mil pessoas em Portugal
Tecnologia
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O nível do mar está a subir e Portugal está “a empurrar o problema com a barriga para a frente”. Na costa portuguesa, esta subida do mar irá refletir-se em cerca de 30 centímetros em 2050 e afetará mais de 100 mil portugueses que vivem em zonas costeiras vulneráveis. As conclusões são de um estudo que tem como um dos coordenadores Carlos Antunes, professor auxiliar do departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). O investigador alerta ainda para um aquecimento do planeta em 1,5 graus antes de 2030: “devíamos estar muito mais preocupados na adaptação do que propriamente na mitigação”.
Não restam dúvidas de que o planeta está a aquecer e muitos têm sido os sinais de alarme enviados pela Terra para despertar o mundo. Progressivamente estão a ser adotadas medidas para lutar contra este problema. Realizam-se cimeiras, criam-se pactos e fazem-se manifestações.
Em conversa com o engenheiro geográfico Carlos Antunes, percebemos que muitas das metas que foram estabelecidas para combater este problema são, na verdade, inatingíveis e que a vitória nesta batalha contra as alterações climáticas poderá estar fora do nosso alcance.
Nos dias 2 a 14 de dezembro de 2019, decorreu em Madrid a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25). Depois de dias de negociações, chegou-se a uma conformidade para o cumprimento do Acordo de Paris, o qual estipula um esforço global para o impedimento da subida da temperatura média do planeta acima de 1,5 graus Celsius neste século.
No entanto, esta é, segundo argumenta o professor Carlos Antunes, uma meta impossível. “Nós vamos atingir os 1,5 graus antes de 2030, com 99 por cento de confiança, e dois graus próximo de 2050”, assegura o professor.
Para esclarecer esta conclusão, Carlos Antunes explica que o dióxido de carbono (CO2) que é emitido à superfície leva, em média, cinco anos a atingir as camadas superiores da atmosfera, onde existe o efeito de estufa máximo, “o que significa que o dióxido de carbono que estamos a medir globalmente na atmosfera é o dióxido de carbono que foi emitido até 2014/2015”.
O dióxido de carbono (CO2) que estamos a emitir atualmente só se vai refletir num futuro de dez a 15 anos. “Se o dióxido de carbono que está na atmosfera já nos garante um aquecimento de 1,4 graus, só precisamos de aquecer 0,1 graus para chegar a 1,5. Ou seja, em 2023 estará na atmosfera o dióxido de carbono suficiente para aquecer a Terra em 1,5 graus”, conclui o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
A neutralidade carbónica é outra das metas na lista das impossibilidades. Questionado sobre se acredita que conseguiremos atingir o objetivo da neutralidade carbónica em 2050 acordado no Pacto Verde Europeu, o professor Carlos Antunes responde que não se trata de uma questão de acreditar, mas sim numa “análise matemática e numérica que aponta para essa impossibilidade”.
Transformando as fórmulas matemáticas em palavras, o professor universitário explica que, para ser possível reduzir 50 por cento das emissões de carbono em 50 anos, é necessário diminuir as emissões em sete por cento por ano – ou seja, reduzir o consumo das energias fósseis em sete por cento. Sendo que, por ano, se produz cerca de 136 milhões de gigawatts (GW) de energia fóssil, seria preciso reduzir em cerca de dez milhões de gigawatts (GW) por ano.