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UPorto e Cooperativa de Vila do Conde em projeto que analisa toxinas em produtos agrícolas

8 Outubro 2019
UPorto e Cooperativa de Vila do Conde em projeto que analisa toxinas em produtos agrícolas
Cultura
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Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) integram projeto europeu que visa “estudar o processo de contaminação de toxinas” em vários alimentos e produtos agrícolas que integram a cadeia alimentar.
Vitor Vasconcelos, presidente do CIIMAR da Universidade do Porto e coordenador da equipa portuguesa neste projeto, explicou que o objetivo do “Agritox – Prevenção da Contaminação por Micotoxinas de Alimentos causada pelas alterações climáticas” é “fazer o seguimento do processo de contaminação em toda a cadeia alimentar”.
“A nível mundial, são poucos os trabalhos e investigações que analisam a transferência das toxinas na cadeia alimentar. Há trabalhos que se focam nas rações, outros no leite ou nos ovos, mas não há trabalhos que seguem todo o processo”, frisou.
Foi com este propósito, que o projeto Agritox, financiado em 1,95 milhões de euros pelo Programa de Cooperação Interreg Atlantic Area, juntou centros de investigação, cooperativas e entidades fiscalizadoras de cinco países europeus (Espanha, Irlanda, Portugal, França e Reino Unido).
Durante os próximos dois anos e meio, os investigadores vão assim estudar a “problemática” das toxinas produzidas por fungos [micotoxinas] que contaminam os alimentos humanos, através das rações animais e da fertilização dos campos agrícolas.
Segundo Vitor Vasconcelos, esta contaminação pode ocorrer quando os cereais ou frutos secos que compõe as rações são conservados em locais com “alguma humidade” ou durante o processo de tratamento da forragem.
“Os fungos gostam de humidade e, muitas das vezes, o que acontece é quando estes alimentos são mal conservados, ou até mesmo durante o processo de tratamento da forragem desenvolvem fungos que podem produzir toxinas e essas toxinas podem contaminar a cadeia alimentar”, explicou.
Para analisar e seguir todo o processo de contaminação, o Agritox define assim “diferentes linhas de investigação”, sendo que os parceiros europeus se vão debruçar sobre as rações animais produzidas para o gado bovino e para aves, mas também no leite, na carne e nos ovos, no vinho e nas frutas.
Por sua vez, o CIIMAR vai debruçar a sua atenção na aquacultura, mais concretamente na produção de rações para peixe e na utilização de macroalgas [sargaço] para a fertilização dos terrenos agrícolas.
“O sargaço além de dar nutrientes dá também mais matéria orgânica, mas aí também pode haver uma eventual contaminação que não está estudada”, explicou.
Vitor Vasconcelos adiantou que uma das maiores preocupações dos investigadores assenta no “papel que as alterações climáticas podem vir a desempenhar, nomeadamente com o aumento da temperatura, na modificação das toxinas”.
“As alterações climáticas podem vir a alterar o desenvolvimento de certos fungos que são associados a países mais tropicais e que podem começar a aparecer nas regiões europeias temperadas”, frisou.
Vitor Vasconcelos acredita que o Agritox, ao “traçar um perfil” das toxinas, vai dar a “oportunidade” às entidades produtoras dos alimentos e às entidades fiscalizadoras de “reverem e alterarem o regulamento das toxinas que atualmente existe na União Europeia” e assim alertarem e aumentarem a segurança dos consumidores no espaço europeu.
Deste projeto, que arrancou em abril passado e tem como coordenador a Universidade de Santiago de Compostela (USC), fazem parte a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde.