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Investigadores do CIBIO-InBIO de Vila do Conde desvendam biodiversidade da Amazónia

5 Julho 2019
Investigadores do CIBIO-InBIO de Vila do Conde desvendam biodiversidade da Amazónia
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Uma equipa internacional, em colaboração com investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), concluiu que as aves da região Sudeste da floresta da Amazónia são as “mais recentes” e “mais vulneráveis” às alterações climáticas.
Em comunicado o CIBIO-InBIO, situado em Vairão, Vila do Conde, explica que a investigação, publicada na revista “Science Advances” e desenvolvida pelo centro da Universidade do Porto e nove instituições internacionais, reuniu mais de seis mil registos e dados genéticos de quase mil espécies de aves Amazónicas.
Citada no comunicado, Sofia Silva, primeira autora do artigo, avança que a investigação teve como objetivo “elaborar um modelo mais complexo” que explicasse as “divergências” observadas noutros estudos.
“Para isso, estudamos diferentes espécies de aves, endémicas de regiões distintas da Amazónia, e analisamos de que maneira as alterações na paisagem e no clima ocorridos no passado estariam relacionadas com o surgimento destas diferentes espécies”, salienta a investigadora.
De acordo com o centro de investigação, os resultados deste estudo “demonstram que as linhagens mais antigas de aves surgiram nas regiões mais húmidas do Oeste e Norte da Amazónia e que estas teriam originado as linhagens mais jovens nas regiões a Sul e Sudeste, relativamente mais secas”.
Em meados do século XIX, o naturalista inglês Alfred Russel Wallace propunha a primeira hipótese científica que tentava explicar a criação da grande biodiversidade Amazónica. Para Wallace, os grandes rios da bacia Amazónica promoveram o isolamento de populações, que, durante várias gerações se diferenciaram e deram origem a novas espécies.
Já em 1969, a investigação do geólogo alemão Jürgen Haffer, intitulada “A teoria dos refúgios”, avançava com a hipótese de que o isolamento e, consequentemente, diferenciação das espécies, ocorreram em refúgios, ou seja, regiões isoladas que permaneceram húmidas e mantiveram a sua cobertura florestal durante períodos secos, há 2,5 milhões e 11 mil anos atrás numa época designada por Plistoceno.
Segundo Sofia Silva, os resultados indicam que, apesar do “contributo” dos rios, o “fator crucial” que explica a grande biodiversidade de aves são “as oscilações da humidade durante o Plistoceno, as quais não foram homogéneas ao longo da Amazónia”, nem ocorreram nos mesmos intervalos de tempo.
O artigo científico agora divulgado indica ainda ter existido “um gradiente bastante acentuado na variação climática desde o Noroeste, historicamente mais húmido, até ao Sudeste da Amazónia, relativamente mais seco”.
“Estas evidências explicariam a existência de uma maior e mais antiga diversidade de aves no Oeste e Norte da Amazónia. O Sul e Sudeste abrigam uma menor e mais recente diversidade de aves, que teriam surgido somente quando o clima esteve propício para o estabelecimento da floresta húmida nesta área”, lê-se no documento.
Segundo o CIBIO-InBIO, os autores do artigo alertam que a região Sudeste da Amazónia, que é a mais “a mais vulnerável a mudanças climáticas” e “a mais ameaçada pela desflorestação” pode sofrer novamente mudanças relacionadas com a perda de biodiversidade e dos ecossistemas.
Para além do CIBIO-InBIO, o estudo envolveu investigadores de mais nove instituições internacionais, entre as quais o Luomus Finnish Museum of Natural History e a University of Helsinki, na Finlândia.