Cirurgia. Sim ou Sopas?

Opinião

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A cirurgia não é uma opção. É um recurso. E, se possível, o último. Na maior parte dos casos as pessoas ou têm a opção de fazer cirurgia, ou fazer cirurgia. Será que o que menos importa no meio de tudo isto é mesmo o utente? Será que chegamos mesmo ao cúmulo de só pensar em dinheiro mesmo que esteja a qualidade de vida de uma pessoa em jogo?
Pelo que tenho visto, isto acontece.
Todos os dias consulto pessoas com as mais variadas patologias, em que a única hipótese que lhes foi dada para tratar a sua dor foi medicação e/ou cirurgia. Em pleno século XXI, não faz sentido! As terapias alternativas (não entendo o porquê deste nome!) têm evoluído muito nos últimos anos. Tanto que hoje usamos métodos invasivos eco guiados que nos permitem diagnosticar e tratar com pormenor o problema.
O que normalmente se vê em consulta: por exemplo, uma patologia no joelho – Dor instalada no joelho, com algum desgaste articular e meniscal, com alteração de amplitude de movimento. Patologia que normalmente aparece em pessoas na casa dos 60 anos. O que se faz hoje em dia? Artroscopia mais visco suplementação.
Mas, onde é que está sempre o problema? Na coluna lombar + anca ou pé. Ou seja, com o procedimento local nunca se vai tratar o problema, mas sim disfarçar os sintomas. Se os problemas forem tratados desta forma, mais tarde ou mais cedo vão voltar. É óbvio que existem casos que necessitam de cirurgia e nesses casos a evolução deste tipo de técnicas é excelente e a pessoa ganha qualidade de vida. O problema, na minha opinião, é a facilidade com que se opera hoje em dia sem sequer se perceber realmente onde está o problema. Volto a repetir: a cirurgia deve ser o último recurso!
Mais um exemplo: homem na casa dos 40 e poucos anos, com excesso de peso e trabalho pesado. Aparece na consulta com dor lombar que lhe afeta também a perna. Diagnóstico: hérnia discal com comprometimento nervoso. Conclusão: cirurgia. Errado!
Fizemos a avaliação e percebemos que o problema que estava instalado na lombar tinha origem visceral. Sim, um problema intestinal provoca quase sempre dores nas costas. Conclusão: o senhor entra na clinica a mancar, é tratado o foco primário de lesão e passado uma hora está completamente sem dor. Milagre? Não. Avaliação!
O que pretendo com este texto é, meramente, informar. O trabalho multidisciplinar tem que estar cada vez mais na ordem do dia e não o contrário. Aos utentes, peço-lhes que perguntem. Se não ficarem satisfeitos, peçam outra e outra opinião. Façam exercício e tomem cada vez menos aquela medicação de “mesinha de cabeceira” que só disfarça o sintoma.

Tiago Silva