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A sorte acima do talento

22 Junho 2017
A sorte acima do talento
Opinião
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Era no que acreditava o cineasta James Bond que agora nos deixou. Roger Moore, o espião britânico mais famoso do mundo, morreu com 89 anos de idade e, pelos vistos, uma longa vida cheia de sorte. Com certeza, 99% de sorte, foi o “saco cheio” da sua carreira, mas, o talento, ninguém lho nega.
O mundo actual está cheio de homens e mulheres talentosos que tentam organizar a sociedade segundo a ciência e a tecnologia. É coxa esta forma de pensar, porque é redutora. É verdade que o humanismo que hoje respiramos, nasce onde nasce o mundo moderno: a Revolução das Ideias, o Iluminismo que redescobre o homem e aposta nas suas potencialidades criadoras, “libertando-o do imobilismo parasita em que está instalado, sempre à espera do auxílio divino”. O culto do divino sobre o humano, levar-nos-ía a uma crónica, incapaz de caber neste espaço dedicado ao “Santo que foi 007”. Talentoso, humanista, filantropo e amigo do mundo, tentou salvá-lo, passeando através dele. Parece-me, pois, que nunca se deixou entusiasmar pelas miragens humanistas do seu tempo: o humanismo materialista, o “Homo-Faber”, moldado apenas para produzir, não se distinguindo, no essencial, duma locomotiva; menos ainda o seduziu o humanismo mecanicista, o “Homo-Mecanicus”, despido e angustiado e já sem paixão, nem sequer para o trabalho; pior o humanismo da moderníssima revolução, o “Homo-In-Vitro”. Robot, fabricado como qualquer produto de marca.
James Bond, na arte do cinema e do teatro, foi um profeta do mundo novo, contra todas as cabalas e maquinações das ideologias e das pestes das novas indústrias: “A religião do Ego”, “A cultura da indiferença” e a “Indústria da felicidade”. Mordia-o a cultura do “Herói” que o perseguiu a vida inteira, ele que apenas desejava manter o seu aspecto.

Pe. Bártolo Pereira