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Cem anos das Aparições de Fátima

11 Maio 2017
Cem anos das Aparições de Fátima
Opinião
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Não me consigo lembrar da primeira vez que fui a Fátima. Pelo testemunho dos meus pais deveria ter um ano, não sei. Sei que não recordo. Mas, recordo, isso sim, que em casa sempre se falou de Fátima, de Nossa Senhora, dos Pastorinhos. Das peregrinações em família de sangue, fé e afeto. Das lembranças que se traziam: os quadros muito pietistas, as colchas para colocar na varanda em dia de procissão, os terços e tantas outras pequenas recordações que povoam a memória coletiva, julgo eu.
Em 1917, quando Nossa Senhora desceu à Cova da Iria, Portugal era um país envolto em desassossego, provocado pela Implantação da República à custa do regicídio – anátema que pesa sobre o nosso sistema político -, o silenciamento da Igreja, o insucesso da economia, desordens anárquicas, crimes, delitos, a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial. Tudo isto fazia com que em Portugal se vivesse um ambiente de guerra civil altamente aproveitada pela maçonaria para espalhar laivos da irreligião. O fundamentalismo com que se pretendeu promover a mutação do modelo social, designadamente, aprisionando a Igreja Católica como adversário desse objetivo, veio a fazer com que a prática não correspondesse à teoria assente na trilogia liberdade, igualdade, fraternidade.
É neste contexto – esta matéria merecia um tratamento muito mais exaustivo, não se tratando de um artigo de jornal – que em 1916, na Loca do Cabeço, num dia de primavera, o Anjo da Paz apareceu nitidamente pela primeira vez, dizendo aos três Pastorinhos que os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz de quem lhes suplica. Na verdade, Deus tinha ouvido os gritos angustiados dos fiéis [portugueses], recordando a sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob (cf. Ex 2, 24) e não tardaria em os livrar do mal.
Após uma centúria, ultrapassados acidentes, incidentes e todos os dissidentes – por quem rezamos -, o 13 de maio de 1917 vai celebrar-se em Fátima, com a presença do Papa Francisco, assinalando-se um século das aparições, Mão de Deus a tocar a Humanidade.
O acontecimento de Fátima apesar de, num primeiro momento, colocado em causa pela Igreja, combatido pela I República, logrado pelo Salazarismo e olhado com desconfiança pelo “25 de Abril Sempre”, subsistiu em 100 anos e persistirá por todo o sempre, segundo leituras literais ou teológicas, análises místicas ou naturais.
Se a naturalidade de Deus que se sobrepôs a uma centúria de transformação amorosa, de construção da paz e destruição dos corações empedernidos e cheios de muros e barreiras veio do Céu, não se conseguirá destruir o futuro, tempo sem fim para viver a paz, sobre o qual o Papa Francisco nos elucidará no Altar do Mundo, sem se correr o risco de entrar em guerra contra Deus (cf. Act 5, 39).

Pe. Paulo César Pereira Dias