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O Dia da Mulher

15 Março 2017
O Dia da Mulher
Opinião
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Deus, no início, classificou a criação em coisa boa e muito boa. A primeira citação bíblica (Gen.1,10), fala de coisa boa, “Adam”, o homem, mas, posteriormente, (Gen. 1,30), Deus fala em coisa muito boa, “Kebah”, a mulher. A luta começa nesta inadmissível distração divina. Nunca mais, nem Deus, nem os homens, calaram as mulheres. Nunca mais as sossegaram e com razão, porque “se há crise, ela revela-se no masculino. A natureza entregue a si mesma converter-se-á numa mulher”, diz Simone Beauvoir. “Deus é fêmea”. Da luta ao poder, vai um intervalo sem ziguezagues.
Esta crónica dedicada à mulher terá uma oitava de celebrações. Hoje, destino a minha reflexão sobre “o poder fêmeo”, reflexão sem segunda intenção, apenas centrada na birra com a Igreja. Um poder em três etapas e todas elas com tamanhos diferentes. A primeira etapa é de sacralidade bíblica. Mulheres vigorosas que são a reserva divina. Sara que gerou sem recorrer à cópula; Raquel, a conceitualidade do corpo, do amor e da fé; as estrangeiras, amadas pelo rei Salomão, deram vida à cidade, (1 Rs.11,1); Clara de Assis, o poder destemido; Teresa de Ávila, a 3ª muralha da cidade; Catarina de Sena e tantas outras com aposentos especiais no comando milenar da Igreja, na sociedade e na família. A segunda etapa é agressiva, mas justa. Marlene Dietrich, Greta Garbo, Edith Piaf, a portuguesa Maria Lamas, mulheres inflamáveis encheram os anos trinta numa luta por avanços na condição feminina que vivia na culpa e no medo. A mulher “biblot” desaparece porque atinge a cota sócio-cultural da igualdade na tutela reservada ao masculino. Não há domínio masculino que não possa ser conquistado pelas mulheres. A terceira etapa é de reivindicação e ultraje. Uma luta empenhada em tomar os “oremos do altar”, reservados aos clérigos. Conheci em Zurique essa agitação que, um pouco por toda a parte, mostra os dentes à Igreja católica. A pároca, da paróquia de S. Felix e Santa Régula, Gertrudes Wurmli, era uma acérrima defensora das mulheres no altar. Esta teóloga celebrava a Eucaristia por inteiro, omitindo, apenas, as palavras da consagração. Concelebrei com ela muitos domingos, era a paróquia que nos estava destinada, comandava a celebração na totalidade, ficando a bênção final da missa a seu cargo e o “ite missa est” por minha conta.
O “poder branco”, o Papal, ainda não abriu o jogo às mulheres.

Pe. Bártolo Pereira