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A cobiça do Natal

23 Dezembro 2016
A cobiça do Natal
Opinião
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O Natal, cada vez mais, é de ninguém: não é de Deus, nem dos homens. Vale a pena recorrer ao pensamento do profeta Isaías para melhor entender a profanização deste mistério. Perdemos o gosto pelo sagrado, por isso, a sociedade contemporânea, apoiada nas correntes humanistas que através da história fracassaram, “montou a sua tenda fora de Deus”. E sempre que Deus está em causa, é a causa do homem que corre risco.
O romancista Vilacondense, Valter Hugo Mãe, tem uma frase espessa, também de pensamento, diríamos de profetismo romanesco que ajuda a entender “a tenda de Deus e a dos homens”. “Deus é uma cobiça dentro de nós.” Entre estes dois personagens, um profeta de Deus, outro das letras, vão quase 3000 anos de distância. A verdade é a mesma. O Natal, por ser de Cristo, “é um trunfo do homem acabado”. Do “Homem, cobiça de Deus”.
Temos cada vez mais um comportamento mecanizado que nos leva à perda de identidade. A criatura humana não sabe se vem de Deus ou, pior, se pertence a este planeta. O homem devassado por tecnologias poderosas, mergulha num narcisismo incomunicável. E, vítima solitária, sem valores e cultura de encontro fraterno, basta-lhe a fidelidade histérica ao telemóvel e uma amorosa afeição à Internet. Hoje, facilmente damos por nós hipomodernos, polivalentes, aparelhados de tecnologias. Somos uma espécie de central ambulante, multiforme, perfeccionista, mas terrivelmente cheia de vazios. Cada um vai pelo “seu rumo”, diz o Papa Francisco, impedindo a cultura da fecundidade do encontro. “Andamos feitos de fúrias constantes e matamos e matamos as ideias uns dos outros.”
O Natal é uma cobiça de Deus e dos homens. Torna-se inveja quando não nos bastarmos com o que temos. Este pensamento, tirado do referido romancista Hugo Mãe, explica a falsificação dos natais que actualmente celebramos.

Pe. Bártolo Pereira