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Na mó de baixo

10 Novembro 2016
Na mó de baixo
Opinião
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O Rio Ave continua nesta altura da época na “mó de baixo”, como se costuma dizer quando as coisas não estão a correr bem. Vamos numa sequência de 7 jogos sem vencer: 4 derrotas e um empate no campeonato, com mais dois empates para Taça de Portugal e Taça da Liga onde no desempate por grandes penalidades fomos eliminados da primeira e passamos à fase de grupos na segunda.
Quem acompanha o futebol, está habituado a ver oscilações de forma das equipas ao longo da época. Umas começam bem e acabam mal, outras fazem o percurso inverso, outras passam por vários ciclos ao longo da mesma época. Do modo como eu vejo o futebol, distingo os ciclos das equipas em 3 escalas diferentes e em cada uma há também diferentes níveis de responsabilidades. A escala mais pequena é a duração de um jogo de futebol. Se há jogos em que costumamos dizer que são de sentido único, quando a diferença entre as equipas é significativa, na maior parte dos casos há períodos de domínio alternado ao longo de um jogo. Quantas vezes vemos uma equipa a massacrar outra e a chegar a uma vantagem de um ou dois golos de diferença e depois, um golo do adversário altera completamente o rumo do jogo e a equipa que estava por baixo cresce e muitas vezes dá a volta ao resultado. Um golo, uma expulsão, uma lesão, um simples remate perigoso ou um maior apoio do público em determinado momento, são alguns dos fenómenos que desencadeiam uma alteração dos ciclos de uma equipa ao longo de um jogo. Não se pode por isso extrapolar que se uma equipa entrou bem ou se fez uma grande primeira parte, vai continuar a fazê-lo até final do jogo. Pode até dominar durante 85 minutos, mas se nos 5 minutos finais o ciclo se inverter, pode ir tudo por água abaixo. Neste ciclo mais curto, a responsabilidade é acima de tudo dos jogadores. São eles os responsáveis por funcionar como um colectivo, que podem empolgar a equipa com a sua qualidade individual ou deitar tudo a perder com falhas de concentração.
Numa escala maior, há os ciclos ao longo da época. Aqui são essencialmente os resultados que ditam se a equipa está numa boa ou má fase. Não adianta durante cada jogo ter muitos períodos de grande qualidade porque se os resultados não aparecem, entra-se necessariamente num ciclo negativo. É num desses ciclos que o Rio Ave se encontra, depois de ter um período bem positivo nas primeiras 5 jornadas. Uma prova que estes ciclos ao longo da época e os ciclos durante os jogos não são necessariamente coincidentes é que nas primeiras 5 jornadas, nem sempre o Rio Ave jogou bem, nomeadamente em Braga e em casa com o Feirense e conseguiu ainda assim bons resultados, tal como na semana passada fez um grande jogo em casa frente ao V. Guimarães, mas como o resultado do jogo foi negativo, mantemo-nos na mó de baixo em termos de ciclo de campeonato. Nesta escala, como são os resultados a definir se estamos numa fase boa ou má, naturalmente só o regresso às vitórias, ou um empate frente a uma equipa claramente superior podem começar a inverter a tendência. Os responsáveis por estes ciclos ao longo do campeonato, são também em parte os jogadores, mas aqui já há um peso maior do treinador, quer na escolha dos onzes e da táctica para cada jogo, em função do adversário e da forma individual de cada um, quer na preparação psicológica da equipa para dar a volta às situações negativas ou para não entrarem em euforia após séries de bons resultados.
Finalmente, há os ciclos de maior escala, ao longo de vários anos. Nesse aspecto, na nossa história, estamos claramente numa fase positiva, com a estabilização na primeira liga ao longo de 9 épocas consecutivas e dentro desse ciclo, progressivamente a esquecer o objectivo da manutenção e a ambicionar regularmente os lugares europeus. Os responsáveis por estes ciclos de longa duração, são necessariamente os dirigentes, que têm a palavra final na definição do plantel e equipas técnicas e em garantir as condições financeiras e de infra-estruturas para que eles possam desenvolver o seu trabalho.
Quanto ao nosso ciclo negativo que atravessamos na época, é também da direcção a responsabilidade de aquilatar se a actual equipa técnica tem capacidade de dar a volta à situação ou se estará na altura de mudar. Na minha opinião não estamos ainda na fase de não retorno. Se formos capazes de manter os tais ciclos positivos na escala mais curta durante os jogos, os resultados voltarão a aparecer mais cedo ou mais tarde, agora se esta fase negativa se começar a traduzir em intranquilidade e incapacidade da equipa continuar a lutar em cada jogo, então algo terá mesmo que mudar.
Tendo a consciência destes ciclos, não devemos por isso extrapolar: se num determinado jogo estamos a jogar bem e a vencer ao intervalo, não significa que vamos golear, podemos mesmo perder o jogo, tal como na situação inversa devemos ter sempre a esperança de um golo inverter a tendência e nos colocar por cima do jogo. Também ao longo do campeonato, não devemos extrapolar esta má fase para o resto da época, imaginando que vamos terminar a lutar pela manutenção, este ciclo pode ser invertido a qualquer momento com uma vitória que poderá ser já no próximo jogo.

Renato Sousa