Última hora

500 anos da morte do pintor Bosch

25 Novembro 2016
500 anos da morte do pintor Bosch
Opinião
0

O mês de Novembro é bem escolhido para uma homenagem ao pintor flamengo Hieronymus Bosch (1450-1516), a fim de assinalar os 500 anos da sua morte. Apesar da sua origem quase desconhecida, o pintor afirma-se em toda a Europa com um reportório fabuloso e com muito delírio imaginativo. A fantasia pictórica do Mestre quinhentista e os acontecimentos do mês de Novembro, são de fantasmagorias próxima e convidativa. O Halloween na dança das bruxas, rivaliza com a austeridade dum culto ancestral que a Igreja acarinha na memória daqueles que “dormem no pó da terra”; S. Martinho das castanhas e a ritualidade da matança do porco, são alquimias que Jerónimo Bosch recria com talento pessoal, misturando seriedade com provocação, burlesco com paródia. Mas, o jogo artístico do pintor retrata um mundo de personagens, ora vulgares, ora aberrantes. Perfis e figuração de humanos vestidos no dia-a-dia, quer de pecado e de tentação, quer de moralismo e virtude, ou, até, na complexidade duma normalidade “anormal”.
Bosch é ímpar no quadro dos pintores do seu tempo. Diz-se que terá pertencido a uma seita de ciências ocultas e aí se inspirou em sonhos e voos espagíricos. Foi, sem dúvida, um Surrealista do século XVI e, por isso, um profeta com anúncios e denúncias de linguagem bíblica.
Vestir o ser humano através das artes, nos seus talentos e vícios, não é coisa de somenos. Na clausura do nosso corpo, vivem pessoas diferentes que, por vezes, só a magia da arte consegue recriar. Recorro ao pensamento do último romance de Valter Hugo Mãe. “Homens sem semelhanças”, somos todos na complexidade do ser.
As cenas do “Julgamento final”, pintura do ano 1504, são uma amostra do homem brutesco que Bosch queria fazer chegar ao “tribunal de Deus” para apurar as contas finais. Diante de Deus, todos, um dia seremos desnudados e, sem disfarces, julgamo-nos porque Deus não julga ninguém.

Pe. Bártolo Pereira