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Vila do Conde: um porto turístico para o mundo

1 Setembro 2016
Vila do Conde: um porto turístico para o mundo
Opinião
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É a olhar para uma folha em branco no ecrã do meu portátil que encontro o vazio de ideias tão característico do Verão. Não que esteja calor, porque não está, mas porque esta sazonalidade leva-nos a preguiçar a mente e a deixar-nos levar pelos dias vazios de reflexões profundas. Talvez seja por isso que, após o Verão os Partidos Políticos fazem a sua “rentrée” depois do que chamam a “Silly Season”…
Tal preguiça leva-me a falar de férias, consequentemente de turismo e tudo isso na nossa Vila do Conde. Não sei se será isso que esperam de mim, mas apetece-me falar do assunto do um ponto de vista nada técnico, como quem está numa esplanada ao sol a beber um fino e a comer tremoços. Ou então, num estado de levitação de quem ainda escaldado de um dia de praia, bebe um gin tónico numa noite quente de verão. De repente esta dicotomia entre o fino e o gin, levou-me a pensar que, no fundo, hoje em dia o que o Turismo procura é isso mesmo, experiências. E por isso o Turismo precisa de Vila do Conde e este magnífico Concelho precisa do Turismo. Não caio na facilidade da moda e da demagogia de andar sempre a reboque de outros Concelhos, como que se tudo o que acontecesse sobretudo no Porto ou em Lisboa tivesse de acontecer por aqui. Na verdade tudo tem vindo a mudar e as influências no modo de viver, sobretudo as cidades, chegaram a Portugal pelas suas principais cidades. O paradigma mudou e mudou a nosso favor. A procura é constante durante todo o ano, não procuram apenas praias, bom tempo e a nossa gastronomia. Muito menos se resumem a clientes do golfe endinheirados, que viram neste País mais a Sul um local onde se vende barato, do melhor do mundo. Há nas ruas das nossas cidades um fascinante capital de que nunca nos tínhamos apercebido. Há nas vilas e aldeias históricas um Portugal único, que o resto do mundo não se importa de pagar para viver um pouco. Bastou abrir um pouco, revelar apenas o que temos, como vivemos e o mundo caiu aos nossos pés.
Vila do Conde tem absolutamente tudo, rio, mar, pinhal, floresta, historia, gastronomia, monumentos, na sua cidade, nas suas freguesias do mar ao interior e pela ordem que quiserem. Tem nas suas terras parte do 2.º maior aeroporto do País, onde aterram milhões de visitantes todos os anos. Mas não tem turismo, ou melhor, não tem um movimento de turismo proporcional a todo o seu potencial, numa altura em que o País fervilha de turistas.
Não há drama nem culpa neste análise de esplanada, talvez o problema seja mesmo, o facto de termos tudo e provavelmente não sabermos bem para onde nos virar. Talvez o conforto de não ter sido necessário quase nada para que alguns turista por cá andassem.
Assim de repente concluo que o que nos falta é mesmo pensar mais no assunto, não necessariamente num gabinete fechado da Autarquia, mas sim de uma forma descomprometida e concertada com todos os protagonistas do tema. É meritório o esforço por preservar o nosso património, de iniciar uma verdadeira política de apoio à reabilitação urbana, de promover a abertura de restauração e estabelecimentos hoteleiros. É saudável promover a cultura ou o folclore através de eventos, mas, por muito interessantes que sejam, são pontualidades num ano vazias de estratégia. E tudo não é suficiente porque parece não existir essa necessária estratégia.
Deixemo-nos de promessas e disputas políticas, alguém tem de parar para pensar o que temos de fazer e o que queremos fazer. E pensar a partir de Vila do Conde e não trazer para cá o que os outros fazem com o seu sucesso. Sem transformar isto num pretenso manifesto eleitoral, questiono porquê querer fazer um mercado gourmet, se temos um mercado de peixe subaproveitado na maior comunidade piscatória do País? Se temos freguesias com uma interessante procura pelo alojamento local, porquê um Hotel Spa junto ao mar de Labruge? Andamos anos convencidos de que a melhor utilização para o Mosteiro de Santa Clara era uma pousada, encetamos lutas para convencer os outros disso mesmo, e tínhamos uma empresa a querer recuperar o Mosteiro de São Simão da Junqueira para um Hotel de Charme. Quais das nossas qualidades queremos vender e se queremos explorar todo o nosso potencial, como vamos trazer alguns dos milhões de turistas que anualmente aterram no Aeroporto de Sá Carneiro?
As boas intenções de quem geriu e gere os destinos da nossa terra, são, a meu ver, inglórias, se não for definida uma estratégia para a promoção e crescimento do nosso turismo. E sem que esse processo seja dinâmico, que se adeqúe a um sector que nos permite criar emprego, riqueza e simultaneamente ajude a preservar património histórico, natural e humano.
Não sou daqueles que encara o Turismo como tábua de salvação e muito menos considero que seja motivo para alterar e deturpar a vivência dos nossos lugares. Não nos devemos vender, mas devemos vender bem o que temos para oferecer. E, caramba, basta um breve passeio por entre as nossas terras e cidade para perceber que pouco de mal se fez, muito de bom foi feito, mas há tanto de melhor ainda por fazer.
Há nas mesas das esplanadas de verão um relaxe que por vezes nos leva a encontrar esta rima da razão. Ou então é como os meus filhos, fazem castelos na areia.

João Amorim Costa