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Nacional porreirismo

12 Agosto 2016
Nacional porreirismo
Opinião
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O conceito é antigo, a frase saiu há dias da boca dum comentador. A coabitação entre pessoas e profissões não concede direitos além dos espaços fronteiriços que são pertença de cada um. O enfermeiro não se substitui ao médico, nem o meirinho ao juiz. A competência de cada m e o grau de escolaridade obtido determinam as funções hierárquicas. A vida moderna, por vezes, favorece alguma confusão ao pretender uma democratização generalizada que apenas contempla a irresponsabilidade. E o comportamento pastoso do grupo, por sua vez, também contribui, social e culturalmente, para o equívoco de que somos todos iguais. Nada mais errado e perverso.
“Nacional porreirismo” diz-se dum comportamento político demente que oferece para alcançar objectivos “indecentes”. Já que somos todos iguais, vale tudo. Li um livro há tempos de José Gil, “Portugal, Hoje. O medo de existir”. Uma análise crítica ao comportamento de cidadão português, onde dificilmente se inscreve a noção da responsabilidade. É “O País da não inscrição” que pode levar à perda da identidade moral da pessoa. Impede a consciência de gritar, negoceia com a impunidade, autoriza o pecado social e colectivo, desenvolve “o desejo de flutuar, de não entrar, nunca, na vida concreta e real”. Somos títeres, repetindo frases e pensamentos postos em leilão por ideólogos mal intencionados. O “País da Não Inscrição” é uma curiosa observação analítica a um comportamento onde a noção da responsabilidade é bastarda, mesmo incoerente e adúltera.
Vivemos infantilizados à escala nacional. Um “nevoeiro branco” favorece o mecanismo da “não inscrição” e, assim, remete-nos para uma irresponsabilidade cultural e política na observação da vida colectiva e social da comunidade. O País é uma “res nullius”. Coisa que não tem dono. Pelo menos, não nos pertence porque o deixamos ao cuidado dos outros. “É a vida”, diz José Rodrigues dos Santos, ao fechar o telejornal, piscando o olho.

Pe. Bártolo Pereira