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Seleção à Portuguesa

14 Julho 2016
Seleção à Portuguesa
Opinião
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São dias de festa os que vivemos. Com o Verão vieram as tradicionais festas com a boa disposição que o calor nos dá. O Verão de 2016 vai tornar-se célebre pelas glórias desportivas que nos enchem de orgulho por serem portuguesas. E que bem que nos sabe esse patriotismo e a identificação com a vitória de quem nos representa. Percebo pouco de futebol, mas vivi com emoção, ansiedade e êxtase as sucessivas vitórias até à consagração final de Campeões Europeus de Futebol. A bola sempre foi um bocado quadrada para mim, que desde miúdo aderi a outros desportos. Mas a trajectória desta Seleção Portuguesa de Futebol merece várias reflexões mais ou menos técnicas. E a mim interessou-me o sentimento e a estratégia da equipa que se ia formando desde a fase de grupos até à decisão final.
Há para mim uma lição a tirar de tudo o que aconteceu neste campeonato europeu de futebol e muito do que tenho pensado em falar. Sobre nós, Portugueses, sem epicurismos patriotas, a verdade é que com orgulho que nos considero um dos Povos mais empreendedores do mundo. Não só pela tão falada História dos Descobrimentos, mas muito pelo que está a acontecer.
Está na moda o Empreendedorismo Social e Empresarial, as Startups e todo surgimento de iniciativas de cidadãos, organizações ou empresas. Existe um sentimento de um português suave que não fica à espera que o Estado faça aquilo que cada um de nós pode e deve fazer. A crise deu-nos essa dor, essa orfandade e o que achávamos pouco provável aconteceu mesmo. Confesso que nas minhas várias funções, que felizmente ainda vou fazendo um pouco de tudo, sem fazer nada de muito especial. Tenho assistido a movimentos altamente inspiradores e motivantes.
O Sector Social, chamado de 3.º sector da nossa economia, explode todos os dias com novas iniciativas, novas organizações e sobretudo com uma imensa vontade de muitos portugueses mudarem o mundo. É para mim o ambiente onde me sinto melhor, com sonhadores que pensam em resolver o que está mal no mundo, a começar pelo seu próprio país. Curiosamente entrosei-me com esta gente em busca de conhecimentos de Gestão. E aprendi que a Economia, imprescindível ao Sector Social, está a ser salva pela Economia Social que está a mudar o mundo. Refiro-me a um grupo de gente que criou e dirige o Instituto de Empreendedorismo Social onde se aprende e se é inspirado a construir novas iniciativas com fins sociais. Mas também se aprende e muito como renovar a forma de ver e gerir as iniciativas mais tradicionais das organizações sociais, como são as IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social).
Há cerca de um mês fui convidado a assistir a uma iniciativa promovida em Vila do Conde por umas pessoas amigas chamada de Startup Pirates. Fui à sessão de encerramento, onde um conjunto de equipas finalistas fez uma apresentação final sobre a sua ideia de negócio empreendedora e inovadora. Surpreendente ver alguns e algumas amigas, ou então meus conterrâneos, que cresceram comigo, serem empreendedores e criativos, na criação de negócios verdadeiramente inovadores e sustentáveis. Curiosamente, quando cheguei, fui recebido e tratado como vereador, embora ali me tivesse dirigido como amigo e anónimo cidadão de Vila do Conde. Mas esse mesmo incidente fez-me na altura pensar precisamente no papel do Estado e da Autarquia perante a realidade dos dias que acontecem, numa altura em que o Estado nos deixou órfão em muitas das obrigações que tinha para connosco. Numa altura em que por isso mesmo discutimos o Estado que queremos ter, mas sobretudo o Estado que queremos pagar… Perguntei-me naquele momento se perante todo este sentimento empreendedor que explodiu com a crise, mais uma vez, a principal função das organizações públicas seria deixar e apoiar quem faz. Sabemos todos o que está em causa, que quem é eleito precisa de reconhecimento, precisa de fazer. Mas não há melhor glória do que fazer parte de uma equipa que se consagra vencedora?
E por isso apetece-me voltar a falar da viagem vitoriosa da seleção portuguesa pelo Campeonato Europeu de Futebol. Porque mais do que querer o brilho das exibições individuais, a lição que estes jogadores nos deram foi a da Cooperação. Talvez esteja a escorregar para uma imensa demagogia, mas não tenho a menor dúvida que o sentimento vitorioso que fica é o da equipa. Lembro-me de Pepe no final de um dos jogos comparar a sua/nossa equipa com os Portugueses, humildes e trabalhadores. Escreveria páginas sobre este tema, mas deixo apenas esta mesma comparação. Somos humildes, trabalhadores, empreendedores e por vezes geniais. Seríamos gloriosos em muitos campeonatos se fôssemos todos cooperantes como os nossos jogadores foram!

João Amorim Costa