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Romeu e Julieta: arquétipo do amor juvenil

27 Maio 2016
Romeu e Julieta: arquétipo do amor juvenil
Opinião
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É incontornável recordar William Shakespeare sem uma referência a Romeu e Julieta, a primeira grande tragédia shakesperiana escrita entre os anos 1591 e 1595. Toda a obra de Shakespeare é “tragicamente misteriosa e poderosa” e tendo-nos deixado há 400 anos, o seu testamento cultural ultrapassa-o e constitui a própria encarnação do teatro na personalidade e plenitude das suas obras.
Romeu e Julieta são dois adolescentes unidos no amor até à morte, não obstante o desentendimento feroz entre as suas famílias, os Montecchios e os Capuletos. A história é clássica, com estrutura igual a todos os romances amorosos e trágicos da antiguidade grega. É mundialmente representada e a sinopse dos seus ingredientes assentam no esquema do romance passional: o amor e os ódios, a dualidade do azar e da sorte, as paixões violentas que só a união dos amantes pode acalmar, o fatalismo, a rebelião dos sentimentos. E tudo num caudaloso tormento até “ao final do fim”: o suicídio dos dois inseparáveis amantes e a reconciliação das suas famílias. Posteriormente, a psicanálise entra em cena e oferece outras leituras com desenvolvimento psicossexual nas mais variadas fases fálica e edipiana. E como não há dois sem três, esta tragédia, arquétipo de todos os amores juvenis, percorre outros corredores com análises que desafiam a sociedade patriarcal, os movimentos feministas e mesmo as novas teorias sobre o fenómeno da homossexualidade.
As leituras são férteis na exploração desta temática shakesperiana como, por exemplo, “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco (1825-1890). Simão amou Teresa com loucura e morreu de amor a caminho do degredo, enquanto Teresa morria também, enclausurada no convento. Mas o enredo amoroso entre adolescentes, hoje, está prostituído. Perdeu gás, já não apaixona; o amor proibido ou dificultado entre jovens é descarado, sem paixão. As temáticas nas literaturas contemporâneas perdem rigor e os costumes fidelidade moral. Contudo, Romeu e Julieta continuam cândidos na tragédia do amor.

Pe. Bártolo Pereira