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O ano de Shakespeare (1564-1616)

20 Maio 2016
O ano de Shakespeare (1564-1616)
Opinião
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Há 400 anos foi a sepultar um dos mais famosos escritores da literatura mundial. Poeta e dramaturgo, nascido em Inglaterra, William Shakespeare, um clássico que encarna as paixões e os conflitos das duas realidades oposta: a divina que representa tudo o que é definitivo e eterno; a humana que responde e se apega a contingência do sentimento, do erro, da ignorância.
Os gregos conceberam os deuses como potências super-humanas que se introduzem entre os homens, tomando a sua consciência e adoptando as suas formas. A apresentação desta intervenção da divindade na vida dos humanos provoca um conflito que se chama tragédia. Nasce o teatro nesse berço da antiguidade clássica, com esse tráfego de conflitos entre céus e terra. Depois, o berço embala o outro género, o drama. O homem, agora livre, faz e decide sem anuências com a divindade. As oposições disputam-se entre humanos com desfechos violentos ou sangrentos, irónicos ou tranquilos. E a dança do teatro avança depois para os palcos da comédia, em oposição à tragédia, e nasce a farsa, em oposição ao drama. William Shakespeare é absorvido através destes 400 anos por todos, homens da cultura e das artes, de forma, diríamos, gananciosa, mesmo até de inveja e suspeita. A sua popularidade, questionada ou não, é assombro para todos.
Giuseppe Verdi (1813-1907) é um voluptuoso compositor lírico que na fase final da sua vida enfrenta Shakespeare com duas óperas que revelam o carácter dramático daquele que é, ao mesmo tempo, actor e poeta, com uma carreira brilhante, acompanhada por uma espantosa ascensão social. A cumplicidade de Verdi a Shakespeare é insólita. Verdi, octogenário e depois de oferecer ao mundo o “credo” da “Aida”, recolhe-se ao silêncio. Enganaram-se os analistas que profetizavam o fim criativo do compositor. Aos 85 anos rompe o silêncio com o assombro dos dramas shakesperianos em “Otelo” e “Falstaff”. Duas óperas que traduzem o pensamento dramático do ciúme, da insensatez e da pérfida, comportamentos dum mundo magoado por esses pecados capitais.
Guardamos para outra crónica a famosa peça de “Romeu e Julieta”.

Pe. Bártolo Pereira