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“Julio” no Centro de Memória

5 Maio 2016
“Julio” no Centro de Memória
Opinião
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Uma exposição a não perder. A Câmara Municipal de Vila do Conde ao dar a conhecer o espólio artístico deste cidadão Vilacondense merece um forte aplauso. Julio Maria dos Reis Pereira (1902-1983), com pseudónimo Saul Dias, é cidadão inteiro desta terra, onde nasceu, morreu e, entretanto, criou uma herança cultural de valor assinalável na pintura e no Modernismo em Portugal.
Este ano de 2016 assinala o primeiro centenário do nascimento duma corrente artística enquadrada justamente também na mensagem e filosofia do Modernismo. Há cem anos foi baptizado o Dadaísmo que, juntamente com outos movimentos, como fauvistas, expressionistas, futuristas, desencadearam essa “acção violenta e destrutiva” (Georges Bataille) que são a linguagem da arte moderna. Julio não foi um Dadaísta. Do excelente catálogo publicado pela Câmara no acto da inauguração, deduz-se que terá sido um “introdutor de uma aberta linhagem expressionista” e um Neo-Realista sincero (Dr. Bernardo Pinto de Almeida).
O Modernismo português anda preso à geração dos movimentos literários do grupo do “Orpheu”. Este ano, também celebramos o centenário da morte de Mário de Sá Carneiro, um dos fundadores da referida revista que abre perspectivas de mudanças radicais contra o conservadorismo da sociedade e duma elite pensante da Igreja, fidelizada ao papado de Pio IX (1846-1878).
O percurso artístico de Julio não é sereno. Está salpicado de incompreensões e, como assinala o referido catálogo, duma falta de reconhecimento do trabalho dos “criadores no seu verdadeiro lugar”. Além dos constrangimentos da ideologia do Estado Novo que vigiava o “furor da modernidade”, impedindo as letras e as artes de encontrarem o seu espaço. Julio é, portanto, um lutador e este apontamento, curto, é uma ocasião para expressar, sublinho, um aplauso às atividades do Município de Vila do Conde aos seus artistas.
Na crónica que publicarei a seguir, volto ao assunto da corrente modernista na invocação dos 100 anos do Dadaísmo.

Pe. BártoloPereira