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O mundo aos papéis do Panamá

15 Abril 2016
O mundo aos papéis do Panamá
Opinião
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Por estes dias feios da chuva que não nos larga e da Primavera que tarda em nos trazer a sua revigorante luz. Temos o mundo “aos papéis” do Panamá e a assobiar para o lado fingindo que não vê os refugiados a fugir da morte e à espera de uma solidariedade que não existe. Sim, porque a Europa e o mundo civilizado estão preocupados em falar de crescimento económico, da estagnação das economias emergentes e dos escândalos financeiros do mundo glamoroso da banca. São dias deprimentes de uma realidade sem sol e sem luz. Algo nos quer encobrir uma realidade que talvez nos seja bem menos confortável. Construímos um mundo de sonho que levamos na mochila de Joana Vasconcelos, com tudo o que nos fizeram precisar. E tal como Joana não vemos mais do que esse essencial. Porque o ridículo desta nossa realidade, ensombrada pela luz forte do display do iphone, é que dizem a um refugiado, que para pedir asilo a um país da Europa, tem de o fazer através de uma entrevista via skype. De repente a Europa parece um condomínio fechado, onde qualquer ser humano anseia lá morar. Este velho Continente construiu valores que são os mais civilizados e evoluídos deste planeta, mas esqueceu-se que para isso seria desnecessário criar tanta desigualdade. Não digo que nos devemos sentir culpados por ter conquistado isto. Não digo que devemos por em causa os nossos valores, o nosso modo de viver ou até o nosso conforto. Apenas acho que não podemos virar a cara e pensar para além da mochila de Joana.
O mundo anda chocado com as offshores do Panamá, não porque já não soubesse da sua existência ou desconfiasse de quem são os detentores dessas contas chorudas que não pagam impostos como nós. O mundo de repente acorda e vê que, mais uma vez o dinheiro existente nesta nossa sociedade global é muito mais do que aquilo que nos querem fazer querer. Dinheiro já não representa uma riqueza associada a um vil metal ou pedra preciosa. Já não equivale a um bem essencial ou raro, ou mesmo a qualquer património imobiliário. Dinheiro é um número que alguém inventa, associado a uma dívida que alguém contraiu porque é amigo do banqueiro. Dinheiro é poder. E é esta mais uma vez a grande revelação, nós somos todos estúpidos. O mundo está em crise porque enfrenta hoje as maiores desigualdades na distribuição de riqueza já alguma vez vistas.
Sim esse mundo ideal existe, tal como na Europa, existe neste planeta recursos suficientes para que ninguém tenha fome. Para que se combata todas as doenças e se apoie todas as crianças, homens mulheres e idosos. Podemos ser todos pessoas e nada do que eu partilhe com o resto do mundo me irá faltar a mim e aos meus.
Naturalmente que por esta altura esta verdade será ouvida em tom de arrogância e todos nós achamos que somos pequenos de mais para sequer pensar no assunto. E na verdade somos, até porque cada um de nós já tem o seu mundo tão pesado para carregar, que não sobra nem vontade nem força para carregar essa grande mochila.
Depois de tudo o que disse será difícil convencer alguém de que eu acredito na Humanidade, na Europa e no mundo global como o temos. Provavelmente será por este mundo se ter globalizado, que se apressa a apresentar os seus dilemas mais profundos. Estou mesmo convencido que vivemos uma autêntica guerra entre o velho e o novo mundo. Entre finanças e economia. Entre gestores e empreendedores. Entre gente que quer mudar o mundo e os que o querem apenas dominar.
Estou certo de uma coisa, o mundo e a humanidade nunca evoluiu à custa do dinheiro ou da riqueza. Somos o que somos porque pensamos e porque comunicamos. A história, a cultura e a informação são a palavra. Isto que nos distingue de outras espécies foi o que nos trouxe até aqui, essa palavra.
Hoje a palavra é social como nunca foi, provoca revoluções, faz cair ministros, mas também provoca as ondas de solidariedade como nunca vimos na nossa história humana. E por muito negros que estejam estes dias, eu arrisco-me a fazer a fusão entre social e esperança.
SOLidariedade.

João Amorim Costa