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O “Mosteiro” não precisa de abraços e a “ponte” que Vila do Conde precisa é com as pessoas!

28 Abril 2016
O “Mosteiro” não precisa de abraços e a “ponte” que Vila do Conde precisa é com as pessoas!
Opinião
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Fez no passado dia 18 de Abril, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, 3 anos que em Vila do Conde cerca de 2000 pessoas se juntaram para um cordão humano denominado “Um abraço ao Mosteiro de Santa Clara”. O tema da ruína deste monumento, ex-libris de Vila do Conde, foi aliás um dos protagonistas nesse ano de eleições autárquicas, com várias ações populares e promessas políticas para a resolução deste assunto. Tenho a bela memória de me ter juntado a uma força humana, um grupo de “bileiros” por iniciativa de um grupo de cidadãos, com o “patrocínio” dos então responsáveis políticos, para limpar o edifício durante dois dias.
Após as eleições a Câmara Municipal de Vila do Conde, então já com novos responsáveis políticos ainda que oriundos da mesma força partidária, iniciou um processo de candidatura a fundos europeus para as obras de recuperação da cobertura e fachada, candidatura essa que se viu chumbada numa primeira fase. Posteriormente, e já com a aprovação dessa mesma candidatura, foram efetuadas obras durante um ano.
Entretanto, as vozes que diziam “não vamos deixar o Mosteiro morrer” silenciaram-se, assim como a vontade política de discutir a sua utilização também. O “Mosteiro de Santa Clara” não morreu, é verdade, mas entrou em verdadeiros cuidados paliativos, deixando de ser uma prioridade para quem dirige os destinos do nosso Concelho. Está fechado, sem qualquer utilização e, portanto, continua abandonado.
Não fosse o esquecimento do assunto causaria espanto o facto da Câmara Municipal de Vila do Conde, nesta recente deriva empreendedora de algumas obras e promessas de outras tantas, ter atribuído funções hoteleiras aos edifícios públicos onde estavam previstas outras funções: falo do Albergue de Peregrinos e da prometida Pousada da Juventude no Palacete Melo! Quem tiver memória não pode deixar de sorrir ao lembrar que a única função estudada para o “Mosteiro de Santa Clara” foi precisamente a função hoteleira onde, de facto, parecia fazer todo o sentido a instalação de uma Pousada de Portugal.
Chegados a este ponto devemos colocar a pergunta: o que mudou na postura da Câmara Municipal de Vila do Conde, para além do seu Presidente, que levou a este desvio estratégico no que à hotelaria e turismo Vilacondense diz respeito, se é que não é precisamente com a ausência de qualquer estratégia que nos estamos a deparar? Que lógica há em apostar em duas instalações para a mesma função, a recuperar e onde será investido mais dinheiro público, em detrimento de um monumento que é o ex-libris de Vila do Conde, que já sofreu obras recentemente e onde se gastou dinheiro público?
Como tenho dito, há um certo desnorte na estratégia de quem dirige os destinos de Vila do Conde. Aliás, há uma certa ironia num mandato recheado de promessas de grandes obras, quando na campanha não se prometeu nenhuma. Diria mesmo uma evidente contradição com a promessa de quem dizia que ia governar sobretudo a pensar nas pessoas. Se na ação social pouco ou nada vimos, já no que diz respeito a obras surgem em cada semana novas ideias e fogachos. A última das quais uma ponte na cidade, para mim uma verdadeira metáfora do que aqui falo. Alguém se lembrou de uma ponte, não se sabe bem de onde nem para onde e pior ainda para quê!
Naturalmente que como arquiteto gosto muito de obras, porque antes da obra existe o projeto, mas previamente tem de existir uma ideia, que de todo não parece existir. A menos que os anúncios (apenas) carregados de enquadramento cénico, mas sem conteúdo, contem…
Visto isto e “para ser curto e grosso”, fará sentido deixar mais uma vez para trás o “Mosteiro de Santa Clara”, para recuperar outros dois imóveis com a mesma função sonhada durante anos para este? Haverá senso em mantê-lo fechado quando existem instituições, associações e movimentos que pedem à autarquia a cedência de espaços para as suas atividades? Será avisado abdicar de pressionar o Governo e deixar que ele persista no centralismo que já vetou qualquer utilização do “Mosteiro”, após as obras de recuperação, no anterior governo de coligação de direita?
Seguramente que não me esqueço que o problema não é apenas municipal e bem sei que o município esbarrou na incapacidade da administração central dirigida por sucessivos governos com orientações políticas diversas todavia, o “Mosteiro de Santa Clara” está em Vila do Conde e é ao município, sobretudo a quem o dirige, que compete pressionar fortemente para que se encontrem soluções e nunca, com as suas ações, inviabilizar soluções, como parece ser o caso. É isso que os Vilacondenses esperam dos políticos que elegeram, sobretudo daqueles que atualmente mandam na Câmara Municipal, mas seguramente que não é isso que sentem! Infelizmente.
Acho que o “Mosteiro” já não precisa de abraços e a ponte que é necessária em Vila do Conde é da autarquia para as pessoas. Este é mais um assunto em que a discussão tem de sair dos gabinetes e passar para a rua. O que fazem e não fazem do nosso património, assim como do nosso dinheiro tem de ser fruto de uma discussão e participação com os eleitores que elegem os políticos. Já lá vai o tempo em que não era assim!

João Amorim Costa