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Mário Sá-Carneiro, 100 anos após a sua morte

11 Março 2016
Mário Sá-Carneiro, 100 anos após a sua morte
Opinião
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Mário Sá-Carneiro (1890-1916), poeta que há cem anos nos deixou, faz parte da herança cultural do Modernismo português. Este movimento de vanguarda é importante pela geração de escritores do “Orpheu”, revista publicada em Março de 1915 e que dá irrequietismo ao pensamento e às ideias, até então mergulhadas num certo marasmo saudosista e um renascimento nacionalista. Entre os escritores representativos do grupo “Orpheu” sobressaem Mário Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Almada Negreiros. A mensagem do Modernismo literário português, veiculado por “Orpheu” que durou pouco tempo, avança para o grupo da “Presença”, revista que nasce em Março de 1927 e nela se espraiam as ideias da fina flor dos “Presencistas”, críticos que se batem por uma literatura viva contra academismos rotineiros, duma literatura de ideal contra “o moralismo do patriota e do crente” (História da Literatura Portuguesa de António José Barreiros).
Nasceu em Lisboa e “como não lhe servia a vida que tinha e como a sonhada não aparecia”, Sá-Carneiro suicidou-se num quarto de hotel em Paris. Foi escritor de dispersão e angústia; de desencontro consigo e com o mundo. Perdido dentro de uma complexa e desordenada vida psíquica, nunca sentiu nem alcançou o que desejava. É, talvez e por isso, o rosto duma juventude embalada pelo desencanto, porque não conseguiu aprender, quer o poeta homenageado e a juventude actual, os ensinamentos de Montaigne: “quando não se tem o que se ama, ama-se o que se tem”.
O jeito de escrever é modernista e, na opinião dos seus analistas, violenta a gramática com frases de grande economia linguística, que exprimem génio concentrado. Sublinho três. “Falhei-me entre os demais”. Cheira a Evangelho de reconciliação num tempo de egocentrismo. Aqui, o poeta entra dentro de si. É egoísta, ele que gosta de “se contemplar de todos os lados”. “Vou arder-me.” Filantrópica? Não. Sá-Carneiro, megalómano, a eito, como diz num dos seus poemas, “só é labirinto perdido dentro de si”. “Desço-me todo.” Frase complexa que tanto dá para frustração, como para se embalar ou “coroar-se” em fantasias régias. Três frases de homenagem a um grande e desiludido poeta das nossas letras.

Pe. Bártolo Pereira