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Uma mulher, Nobel da Literatura

8 Dezembro 2015
Uma mulher, Nobel da Literatura
Opinião
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Desta vez foi escolhida a escritora bielorrussa Svetlana Aleksievich para o Prémio Nobel da Literatura 2015. O acontecimento da atribuição dum Nobel é sempre um acto de cultura que reconhece e distingue quem o conquista mas, fundamentalmente, contribui para abraçar o mundo, tão carenciado duma saudável fraternidade entre povos. O Senor Alfred Nobel (1833-1896) hoje é cidadão da humanidade, não pela invenção da dinamite, explosivo que desde muito novo manuseou na pequena fábrica da casa paterna, mas pela explosão em seis domínios da cultura e da filantropia, ao deixar a sua fortuna em 1901 à Fundação do “Nobel” para promover a Paz e contribuir para o avanço da Literatura, da Medicina, da Física, da Química e em 1969, da Economia.
A atribuição dum “Nobel” nunca se confunde com um “Show” mediático ou político. É sempre um “Pentecostes” no universalismo das ideias e do avanço da ciência. Ao distinguir a romancista, a Academia Sueca, desta vez, “cravou no coração do Kremlin” uma facada perante as responsabilidades do passado do Estalinismo. (Jornal/Notícias/9.10.15). Um romance de literatura “polifónica e um monumento ao sofrimento e à coragem do nosso tempo” disse o júri que premiou a escritora.
A Rússia da cultura e das artes, actualmente, tem um rosto de fisionomia humana oposto à tormenta do Bolchevismo. “O fim do homem soviético” é o título da última publicação da romancista, agora premiada. Após a Revolução Industrial, o tráfego do “Homo Sapiens” acentua-se, valorizando o preço em detrimento da dignidade humana. As bases filosóficas do pensamento liberal engendram todos os humanismos que o século 19 vai exportar para o tempo seguinte. Humanismo materialista, o “Homo-Faber”, moldado para produzir, meio homem, meio besta, não se distingue, no essencial, do mecanismo dum relógio da “Boa-Reguladora”. Humanismo mecanicista, o “Homem-Mecanicus”, despido e angustiado, mergulha no vazio e nada mais o apaixona, nem sequer o trabalho. Humanismo modernista, o “Homo-In-Vitro”, robot atomizado, fabricado em série como um produto de marca. Humanismos profundamente redutores da psique humana.

Pe. Bártolo Pereira