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A Dança dos Extremos

9 Dezembro 2015
A Dança dos Extremos
Opinião
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Este movimento mantém-se unido por algo que não pode ser destruído. Porque antes dos partidos está o nosso país! E quando os partidos passarem, ficarão as pessoas. E não queremos representar uma ocupação, uma religião, uma classe social, porque antes disso queremos educar o povo, porque não há vida sem justiça e não há justiça sem força e esta força tem de vir do povo”.
Estas palavras de apelo à união nacional, não foram proferidas no meio da excitação das recentes eleições francesas que deram a vitória a um partido de extrema-direita, a Frente Nacional, de Marianne Le Pen. Foram ditas pelo pai de todos os movimentos políticos dessa jaez, Adolf Hitler, em 1932. É, claramente, um apelo às armas, um desafio para que o inimigo do povo seja eliminado, algo que não se obterá pela força dos partidos, mas pela força do poder. A senhora Le Pen já avisou que “é para correr com os imigrantes” porque “a França é para os franceses” e “não podemos continuar a ser governados pelos partidos de sempre”.  
E comparo as situações porque elas, de facto, são comparáveis. A única diferença é que nós já vimos, vezes sem conta, o fim do filme de 1932 enquanto o de 2015 ainda está nas cenas iniciais. Mas com os mesmos ingredientes e chefs de igual calibre, o resultado não pode ser diferente.
Isto acontece porque, sejamos claros, a Europa deixou-se adormecer. Os grandes líderes do pós II Guerra Mundial, que a guiaram a novos desafios como a União Europeia, desapareceram na curva do século e os que ficaram são, efectivamente, fracos. Por isso, o Velho Continente anda à deriva, sem timoneiro que o leve a bom porto, tanto guinando a bombordo, como a estibordo. Só assim se explica este “baile dos extremos”, em que vemos a extrema-direita a engrossar em países como a França, a Polónia e a Holanda e a extrema-esquerda a engordar na Grécia, em Espanha e em Portugal, onde, recorde-se, já têm 20% dos votos expressos. A Europa está desnorteada, o que se revela terreno fértil para a emergência de políticos que usam e abusam da sua capacidade de manipulação, mostrando-se salvadores, quando a única coisa que querem é terem palco e poder para as suas ideias totalitárias e ditatoriais. O “Não pagamos!” da esquerda e o “Fora com os imigrantes!” da direita são as duas faces duma mesma moeda, cunhada numa liga especial, resultante da mistura de intolerância e de intransigência e que, cada vez mais, encontra receptividade em cidadãos dispostos a tomá-la como boa, depositando-as no “Gulag Bank” ou no “Auschwitz Bank”…

Pedro Brás Marques