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Uma draga permanente exige-se

13 Novembro 2015
Uma draga permanente exige-se
Opinião
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O Ave, que desce lá de cima da Cabreira e a que ninguém assistiu aos primórdios da sua formação como rio, teve no homem, que apareceu muito tempo depois, o maior inimigo ao alterar as suas correntes fluviais.
E o Ave, que descendo da Cabreira triunfante, selvagem e primitivo durante séculos, encontrou para além de erros crassos dos homens, na alteração do seu percurso, também teve nas freiras do Mosteiro de Santa Clara a irresponsabilidade de o transformar num rio dócil, ao erguerem um açude (naceiro) que lhe quebrou a impetuosidade de levar por mar dentro os seus aluviões.
Afinal, os inimigos do nosso Rio Ave e que com ele se bateram em árduas batalhas eram os seus próprios amigos, pois que não interviesse o homem com artifícios para o domar e, ainda hoje, o Ave seria o rio selvagem que foi. Naus, caravelas e barcaças sulcaram outrora as suas águas, tendo inclusive, estas últimas, subido o seu leito até aos antigos fornos de cal em Bagunte.
É do rio que depende a prosperidade ou miséria dos povos a ele adjacentes e se nos lembrarmos que foi o rio que fixou os nómadas, perto dele construíram a sua cabana, a sua horta, depois a aldeia e a cidade, então saibamos ou procuremos a melhor solução para retirar os aluviões do leito do nosso rio, para que marinheiros e pescadores possam sulcar em segurança um rio que já foi história de navegabilidade, de comércio e de riqueza.
Há muito tempo que vamos falando e discutindo o grande e grave problema do assoreamento do nosso Rio Ave, o grande e grave problema que a nossa frota pesqueira encontra neste mesmo assoreamento e que não os deixa em muitas alturas do ano entrar ou sair a nossa barra, trazendo com isso graves problemas económicos às empresas, assim como às numerosas famílias dos pescadores.
Sendo assim, bom seria que os nossos responsáveis políticos locais e governo chegassem a “bom porto”, no sentido de aqui se instalar em permanência uma draga, pois assim salvaguardaria esse grave problema dos aluviões que, no nosso rio e na nossa barra em particular, se encontram depositados.
Procuremos com este gesto, que é político, salvar vidas, sem esquecer aqueles inditosos pescadores que na nossa “traiçoeira” barra pereceram, entre eles amigos, conhecidos e familiares meus.
Uma outra solução haveria, esta mais radical, e que seria derrubando os açudes, mas, quanto a isto, abordaremos num próximo artigo.

Artur Bonfim