Última hora

Perder peso – a sério! (Parte 3 e última)

11 Novembro 2015
Perder peso – a sério! (Parte 3 e última)
Opinião
0

Perder peso – a sério! (Parte 1)
Perder peso – a sério! (Parte 2)
E foi então que cerca de seis meses após o início da minha odisseia no ginásio, ganhei coragem para saltar da passadeira para a rua. Por essa altura, a relação custo/benefício no que ao esforço dizia respeito era claramente desmotivadora, pelo que a opção passou por intensificar o treino. E lá fui falar com o “coach”. “Vamos começar com 5 km”.
Confesso que não fazia ideia do que eram cinco quilómetros a não ser pela confirmação do conta-quilómetros no carro. Aquilo pareceu-me algo de inultrapassável. A mim e ao “coach”, porque resolveu indicar-me o percurso duma forma que, ainda hoje, tenho dúvidas se não estaria a gozar comigo: “sai do ginásio e vai até ao Restaurante Garfo Torto, depois vira à direita e segue até ao Restaurante Pedra Alta, continuando sempre até ao restaurante Caximar, passando ainda em frente ao Crisupa. Depois volta para trás mas, antes de chegar ao restaurante S. João, corta à esquerda, desce até ao parque de jogos, dá uma volta ao mesmo e já está”. Mas que raio era aquilo? Um percurso de corrida ou uma visita gastronómica a Vila do Conde? Para quem queria perder peso, o imaginário era adequadíssimo!…
E lá fui. Claro que escolhi as oito da manhã na esperança de não me cruzar com ninguém, mas mal coloquei o pé no asfalto ouvi o primeiro “bom dia!”… O primeiro de muitos, porque, inacreditavelmente, há milhões de pessoas conhecidas a correr e a caminhar logo pela manhã.
Curiosamente, a coisa correu muito bem. Terminei os cinco mil metros (cinco mil!…) com relativa facilidade. Dois dias depois, voltei a insistir e até acelerei o passo, tal era a facilidade. Resultado, o último quilómetro foi feito a passo… Mas a verdade é que ao fim de algum tempo já fazia dez quilómetros e depois doze, distância que me fez companhia durante muito tempo. Saía do ginásio, seguia pelo interior das Caxinas, entrava na Póvoa de Varzim até chegar ao edifício da tourada. Depois regressava pela marginal. Dava tempo para tudo. Para ver os homens das Caxinas a encararem o mar com olhar perdido, para ficar enjoado com os litros de perfume das ‘madames’ que vinham coscuvilhar enquanto faziam caminhada equipadas de brincos, colares e maquilhagem, para correr contra o vento e não sair do sítio, para ser mordido por um cão que apareceu disparado de dentro de casa e achou que a minha canela era saborosa deixando a dona preocupadíssima (“ó bóbi, deixa lá o senhor em paz”…) e claro, ser ultrapassado por gente que deve ter sapatilhas equipadas com rodas e motor…
Mas não parei. Entusiasmado, continuei a esticar. Auxiliado por um amigo maratonista, passei a correr em situações inimagináveis uns tempos antes como subir e descer as ruas do Porto antigo à noite ou conseguir ultrapassar a barreira mítica, para mim, dos 22 km, a meia-maratona, percorrendo estradas campestres de Vila do Conde. A incredulidade face às minhas capacidades foi-se esmorecendo, mesmo que torpedeada por entorses, bursites, tendinites e mais não sei quantas “ites”…  Ah! E os quilos foram sendo expulsos com a regularidade possível. Agora, o desafio é outro: lutar para que não regressem.
Três anos depois, o meu mundo ficou maravilhosamente voltado ao contrário.

Pedro Brás Marques