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Perder peso – a sério! (Parte 2)

28 Outubro 2015
Perder peso – a sério! (Parte 2)
Opinião
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Perder peso – a sério! (Parte 1)

A primeira oferta que recebi no ginásio, após ter dado o meu NIB para o óbolo mensal, foi uma entrevista de avaliação. Depois das perguntas rotineiras sobre idade e peso, o meu “coach” (sim, porque isto de ter “treinador” passou de moda…) lembrou-se de me perguntar se estava ali obrigado ou por vontade própria. Aquilo irritou-me um bocadinho: “Então o que é que acha? Que eu venho para aqui suar e cansar-me porque me apetece? Acha que não tenho mais nada interessante para fazer?”.
O rapaz, inteligente, optou por mudar de estratégia: “E há quanto tempo não faz desporto?”. Tive de fazer contas de cabeça, qual António Guterres: “ahm… deixa cá ver… vinte e cinco…”. Perante a minha hesitação, o “coach” avançou rápido: “Semanas?”. Pronto! Lá estragou tudo outra vez… “Anos, homem! Anos!”.
Optou, então, por sugerir que avançássemos para testes físicos. “Elasticidade, blá, blá, resistência, blá, blá, Teste de Cooper, blá, blá…”. Alto! Teste de quem?… Claro que não perguntei. O sujeito já me achava um activo imobilizado, pelo que era escusado ficar a saber da minha ignorância desportiva. Aproveito um momento de distracção dele, saco do telemóvel (abençoada internet!…) e Google! “Teste de Cooper – correr doze minutos, registar a distância percorrida e comparar com a tabela”. Fiquei mais descansado: “doze minutos? Pfff… Vai ser canja!”…
Subi para o tapete. “Então que tal se puser a esta velocidade?”. “Na boa!”. E lá fui eu sem sair do sítio… Um par de minutos depois, o “coach” perguntou se podia acelerar um pouco: “tudo bem”, confirmei. Asneira! Devia ter ficado calado. A passagem aos seis minutos já foi a ventilar, aos nove só rezava para aquilo acabar, aos dez já não via nada à minha frente, aos onze pensava que o meu coração ia furar o tórax e sair disparado, tipo “Alien” e, aos doze, quando aquela tortura terminou, tiveram de me segurar, o que agradeci, embora só depois tenha percebido que era para não cair em cima da máquina e partir aquilo tudo.
Abanaram uma toalha à frente da minha cara e deram-me água. As pulsações acalmaram e arrastaram-me para a musculação. “Quanto é que consegue levantar?”, desafiou o “coach”. Desta vez, já eu estava preparado: “Uns dez quilos!”. O rapaz olhou para mim, incrédulo: “está a gozar comigo?”. Protestei, meio indignado, que não e que achava que esse era o valor possível. Encolheu os ombros e colocou quarenta. “Vai ser outra vergonha”, pensei. Mas não, consegui mesmo levantar aquela montanha de ferro! Estava quase a saborear o triunfo, quando o ditador alertou: “primeira! Siga! Faltam mais nove!”… Tive de trincar o lábio para não insultar a mãezinha dele, que certamente não tinha culpa nenhuma do torcionário do filho, e lá fui levantando a coisa…até à sexta tentativa, com os braços a doerem-me como se tivessem, por exemplo, acordado duma letargia de duas décadas e meia…
Voltámos ao gabinete e ele deu-me a nota final: “bem, como calcula, todos os seus dados estão no vermelho”. Passei-me! “Ouça, isto está a começar mal! Então foi preciso quase me matar para saber isso? Tinha perguntado que eu dizia, caramba!”…
Fui para o banho. Estava de rastos, quer física, quer mentalmente. No dia seguinte, todo o corpo me doía. “Não vou conseguir!”… Passaram-se dois dias e regressei. Durante as semanas seguintes, às segundas, quartas e sextas, lá fui para o ginásio. Seis meses depois, aventurei-me no domínio do inimaginável: fui correr na rua.

(Continua)

Pedro Brás Marques