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Crónica de sonho de um sonhador crónico

15 Outubro 2015
Crónica de sonho de um sonhador crónico
Opinião
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Frequentei o conservatório de música através do vilacondense S. Pio X.
Se a alegria da Professora Margarida, a dinâmica do coro e da banda de música sob a batuta do Professor David, me fizeram continuar, a ausência de magia e a chatice de um professor cinzento fizeram-me desistir. Muitos anos mais tarde, as lides musicais permitiram-me tomar contacto com a Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. Emocionei-me. Tudo o que o professor cinza me tinha tirado estava ali. Cheirava a música. Jovens de todas as idades. Sons de todas as cores. Uns com caixinhas, outros com caixões de baleias. Uns com ar clássico, outros com liberdades bordadas nos coletes. Portugueses e menos portugueses. Professores que pareciam alunos e alunos que trabalhavam como se fossem professores. Percebi que o sitio certo é tão importante como a hora certa. Acho que me faria musico só de observar aquela azáfama melódica.
O pavilhão de desportos de Vila do Conde deu-me uma sensação semelhante. Agora, que levo lá os meus filhos, apercebo-me da energia e da juventude que a alegria de praticar um desporto no sitio certo criam. Uns com sabrinas, outros com botas de basquetebol. Uns com calções e joelheiras, outros de arco e flecha como se aspirassem ser Robin Hood. Treinadores que parecem atletas e atletas que se divertem com trabalho. Cheira a desporto.  E a suor, pois claro, daquele fresco que só os apaixonados pelo que fazem libertam. É bonito e contagiante. O sitio onde fazemos as coisas é mesmo importante. Lamento, ainda assim, que não more por lá andebol que tão boas recordações do meu CCDM me traria. Lamento, ainda assim, que não haja desportos gratuitos para os jovens. Lamento, apesar dos incentivos fiscais e patrocínios públicos, que os clubes tenham cedido à erosão das convicções e tenham deixado de cumprir a promoção gratuita dos desportos e vida sã de que tanto se gabam. É como se esses incentivos e apoios se tivessem transformado numa oportunidade de negócio e tivessem perdido a sua função social, cultural e desportiva. Será o empreendedorismo?

Sermente in Não se pode ter tudo mas pode-se desejar.