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Campanhas eleitorais

30 Setembro 2015
Campanhas eleitorais
Opinião
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Pingam diariamente no meu Facebook convites para ir a uma “arruada” ou para participar num “jantar de militantes” animado por um cantor “popular”. Ou, então, metralham-me com alertas para não perder o vídeo “espectacular” onde um político tropeça nas suas próprias promessas ou aquele cartoon que ridiculariza a arrogância dum político de verve demasiado fácil.
Porque o que importa é chegar ao telemóvel, ao tablet ou ao computador do eleitor e entretê-lo com o supérfluo. Vivemos num mundo onde a superficialidade impera e onde ninguém tem paciência ou interesse para ler manifestos eleitorais. Até porque, todos o sabemos, “aquilo não é para cumprir”.
É assim a campanha eleitoral em 2015, centrada na imagem e nas redes sociais. Mas nem sempre foi assim.
Por razões familiares, primeiro, e pessoais, depois, sempre estive ligado à política. E recordo, ainda miúdo, quando acompanhava o meu pai em “acções de campanha”, muitas delas a acabarem de forma pouco ortodoxa… Colavam-se cartazes, pintavam-se slogans, afixavam-se faixas. Hoje, tudo é feito por empresas de comunicação, sobrando uns papéis e umas “canetas” para distribuir na rua e nas feiras.
Aquele era um tempo de uma política com componente física, de lutas de punhos em vez de lutas de argumentos. Que saudades daquelas “sessões de esclarecimento” nas freguesias, onde os berros, os assobios e os insultos aos “inimigos” eram uma garantia de animação. E, no fim, havia quase sempre pancadaria, porque os tais “inimigos” esperavam nas imediações ou era a hora do regresso a casa dos bêbados, o que ia tudo dar ao mesmo. Chamar a GNR? Para quê? A coisa resolvia-se por si, até porque todos se conheciam.
E as caravanas? Ah! Isso é que eu gostava. Centenas de carros, tractores, carrinhas e motorizadas a serpentearem pelas ruas, rugindo e bramindo até a buzina ficar afónica. Havia zonas mais difíceis do que outras que se iam ultrapassando, até chegar ao nível final, o desafio supremo: atravessar as Caxinas! Era altura para enrolar as bandeiras e, até, segurá-las pelo lado do pano, para que a ponta de madeira ficasse disponível “para o que desse e viesse”. Pauladas, portas empenadas, narizes a sangrar, vidros partidos, olhos negros, em ambas as facções, tudo eram medalhas que, no final, se exibiam com orgulho.
Isto era política? Claro que não! Como também não o é contemporânea anedotazinha que nos chega pela internet ou os comícios ensaiados que vemos na televisão. Mas havia uma coisa que hoje não há: autenticidade. Independentemente da cor política, sentia-se que as pessoas agiam convictas de algo. De que aqueles que apoiavam e pelos quais estavam dispostas a arriscar levar uma lambada, eram efectivamente o caminho para um futuro melhor. Tinham empregos, tinham família, tinham vida, mas saíam e lutavam por aquilo em que acreditavam. Hoje, quem é que vemos disponíveis para semelhante entrega? Só os que precisam da política para viver – e nem todos! Não admira, portanto, que em plena campanha eleitoral, um terço dos eleitores navegue perdido no mar da indecisão. Sic transit gloria mundi!…

Pedro Brás Marques